O cinema turco tem nos últimos anos apresentado estudos consecutivos de figuras – normalmente masculinas – afetadas por dilemas morais, e “Between Two Dawns” é apenas mais um exemplo de um filme local lançado este ano a seguir essa demanda.

Com a base do seu dilema moral a variar caso-a-caso, “Brother’s Keeper”, “Anatolian Leopard”, “Commitment Hasan”,  “Pure White” e  “Fractured”, todos eles, trafegam nessa direção, e no caso deste filme em estreia nas longas-metragens de Selman Necar é impossível não fazer uma ponte com uma obra estreada também esta temporada, mas a 12 mil km da Turquia: El empleado y el patrón, do uruguaio Manuel Nieto Zas.

Tanto “El empleado y el patrón” como “Between Two Dawns” colocam em cena relações laborais, conflitos de classes, e novas gerações que tentam desvincular-se dos métodos subversivos de opressão, baseados no privilégio, que as suas famílias tentam lhes transmitir, obrigando-os a tomarem decisões críticas para o seu futuro. E se na obra uruguaia a história era em ambiente rural, entre um empregado e um patrão, afetados por uma tragédia, na turca o tema é o mesmo, mas o habitat é a cidade e o acidente acontece numa fábrica.

No centro das ações para escamotear as responsabilidades do empregador, após um empregado sofrer um acidente que o deixa queimado, encontramos Kadir(Mucahit Kocak em boa forma), um jovem de uma família proprietária de uma fábrica que tem de mostrar “a massa de que é feito” quando o impensável acontece. Preso entre sonhos bem longe dali, que incluem o casamento com uma mulher que corteja, o rapaz é engaiolado entre as malhas de responsabilidades com a sua família e o legado, e as suas ideias morais de maior humanismo. 

Com a ação a decorrer maioritariamente em apenas 24h, Kadir entra assim numa verdadeira corrida contra o tempo para definir qual será o seu futuro, isto é, se vai sucumbir à tradição e legado ou partir noutra direção que o deixe psicologicamente mais tranquilo.

Necar, que já tinha dado nas vistas com “Alex”, uma curta-metragem carregada de ironia e comentário social sobre o papel da mulher num mundo de homens, constrói o seu filme dramático na forma de thriller, sendo a decisão de que rumo de vida vai tomar o que prende o espectador até bem perto do final.

A veia estética incutida é próxima do realismo, com grande importância nos diálogos, que movimentam e lançam questões que ressoam no espectador. E nessas questões ou reflexões existe sempre uma crítica social aos que estão no poder, os quais, por melhores intenções que tenham ou simplesmente falta de noção (e aqui há também ligação a “El Buén Patrón” ),  tudo farão para manter o seu estatuto e domínio.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
between-two-dawns-o-empregado-e-o-patraoNecar, constrói o seu filme dramático na forma de thriller, sempre com um comentário social em disputta