Projetado como um artesão de sequências de batalha e perseguição há duas décadas, o Zack Snyder espartano de “300” (2007) regressa no apogeu da forma em “Rebel Moon – Part II: The Scargiver”. O segmento de “A Child of Fire”, parte um do díptico (possivelmente tríptico) que lançou no Natal de 2023 na Netflix, chega ao streaming este mês a esbanjar destreza, sempre nas franjas autorais do seu realizador. Há uma luta de espadas nos momentos finais capaz de servir como homenagem ao duelo de esgrima entre os Skywalker, Luke e Anakin (sob o manto de Darth Vader), em “O Império Contra-Ataca”.

Rodado em Inyo County, na Califórnia, com base num orçamento de 83 milhões de dólares, “The Scargiver” consegue oxigenar a falta de ar criativo do episódio anterior, em especial pelo facto de mostrar maior intimidade dos seus (bons) intérpretes com as personagens. O melhor exemplo é Sofia Boutella. Agora, sim, Kora – guerreira arrependida dos seus vínculos com um império maligno, atormentada por um crime de seu passado – transforma-se numa protagonista à altura do que o projeto precisa. Projeto esse com ambição de ser mais do que um passatempo de plataforma, numa conformidade com tudo o que Snyder faz.

Em 2004, um remake de “Dawn of the Dead” acendeu as lâmpada de Hollywood num alarme de que, onde antes havia apenas um competente fazedor de videoclipes (para Rod Stewart, Morrissey, Lizzy Borden), agora há um cineasta com potencial assinatura. A sua identidade mais forte, além da habilidade de construir batalhas sob ângulos inusitados, é a mirada niilista. Ela processa-se uma vez mais no tomo dois de “Rebel Moon”.

O diálogo da trama do filme com “Os Sete Samurais” é inquestionável, sobretudo, na criação de um grupo de soldados (regressados de experiências distintas) para ajudar uma comunidade oprimida. Em “The Scargiver”, Kora (Sofia) prepara-se para uma ofensiva das armadas de Realm contra o povo de Vedt, estabelecendo com os os seus parceiros estratégias de ação. Ao longo de duas horas, somos melhor apresentados às personagens, sobretudo ao general Titus, vivido por um (agora) inspirado Djimon Hounsou, antes mal aproveitado. Na produção anterior, ele era descrito como o maior combatente que já existiu, mas não fazia jus à sua alcunha. Agora, o epíteto já lhe cabe.

Snyder traz de “Army of Dead” (2021) o frenesim contínuo e assina a fita em aceleração plena. O cuidado de humanizar cada figura, dos heróis e dos vilões (como o almirante Noble, de Ed Skrein), não lhe sai da vista. A montagem dá conta dessa busca da realização em oferecer ao público uma montanha-russa que eleva – e muito – o nível dos Netflix Originals.

Pontuação Geral
Rodrigo Fonseca
rebel-moon-part-2-the-scargiver-supera-e-muito-as-falhas-e-ambicoes-do-original“The Scargiver” consegue oxigenar a falta de ar criativo do episódio anterior, em especial pelo facto de mostrar maior intimidade dos seus (bons) intérpretes com as personagens.