A BD “Quentin por Tarantino” chegou às livrarias portuguesas pela Leya (chancela Asa) e revela-se imperdível para os fãs de um dos mais emblemáticos cineastas americanos dos últimos 30 anos. O livro é uma obra de ficção do francês Amazing Ameziane, mas recria, de perto, a biografia do cineasta – partindo da sua infância e rumando, claro, para a produção dos seus filmes – incluindo as suas muitas ideias a propósito de cinema.
O livro abre com Tarantino a fazer de “barman”, onde explica brevemente o seu universo com a sua mitologia interna, mas também fala sobre a forma como manipula o espectador – o velho truque dos mestres. Assim, os filmes do cineasta seriam como uma garrafa de bebida alcoólica com uma serpente dentro a qual o cliente teria que “tomar pelo gargalo” – sem dúvida um risco enorme a qual a maestria da manipulação serviria para jogar com o desejo de perigo do espectador, a crença no contador de histórias, o inesquecível prazer de uma aventura cheia possibilidades arriscadas.
A partir daí, o realizador “fala” sobre a sua infância em Los Angeles com autoridades paternas (do pai ficou apenas o nome…) voláteis, o seu primeiro trabalho num cinema porno, a aquisição da sua cultura cinematográfica num videoclube depois de abandonar a escola e os detalhes saborosos sobre os primórdios da sua carreira – que vão culminar na montagem do clássico “Cães Danados” a partir da entrada crucial de Harvey Keitel no projeto deste desconhecido – e daí para a frente, com detalhes não apenas sobre os seus nove filmes como de outros projetos nos quais ele participou .
Nas histórias de produção, nos exames dos seus filmes a partir dos seus desejos iniciais, vão surgindo os traços fundamentais dos projetos de Tarantino – a maestria dos diálogos, a suas visões propositadamente distorcidas da História, o seu mundo onde os gângsters são muito mais interessantes do que os agentes da lei e por aí afora – tudo temperado pela sugestão dos ambientes típicos da banda desenhada.
