Formal e espiritualmente, “Chalengers” é uma homenagem a “Jules Et Jim” (1962), de François Truffaut (1932-1984), estruturada sobre o universo desportivo do ténis e calcado em três vibrantes atuações, ofertadas ao público por Zendaya, Mike Faist e (com mais destaque) Josh O’Connor.

Os três vivem uma ciranda de quereres, derrotas e vitória entre idas e vindas no tempo. Luca Guadagnino controla o cronómetro com maestria, frisando a leveza. Não se trata de uma narrativa exasperada como “Call Me By Your Name” (2017), o seu maior sucesso, ou um tratado metafísico como “Bones And All”, que lhe rendeu o prémio de Melhor Realização em Veneza, em 2022. É mais uma “Sessão da Tarde” ou “Matiné“, mas com elegância e miolos.

A partir do guião de Justin Kuritzkes, Guadagnino delicia com a dramaturgia do desporto, nas raquetadas de uma bola numa quadra, a explorar os jogos de ténis sob ângulos inusitados – e ágeis. Galvaniza um ritual monástico de precisão com a raquete ao dar a cada jogada uma abordagem de tensão digna de um thriller. Chega ao ápice de narrar da perspetiva da bola, criando uma narrativa cinemática a cada partida. Entre elas, exercita o seu amor pelo romance e pelo melodrama criando quiproquós afetivos.

Na trama, fotografada com austeridade pelo tailandês Sayombh Mukdeeprom (de “Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas”), Zendaya esbanja firmeza e carisma (mais do que conseguiu em “Duna”) no papel de Tashi, uma ex-prodígia do ténis. Afastada dos jogos após uma contusão, ela virou treinadora e transformou o seu marido. Art (Faist), em campeão. Mas para superar uma sequência de derrotas recentes, o rapaz precisa enfrentar o ex-melhor amigo e ex-namorado da sua companheira, o sedutor Patrick (O’Connor). Em meio ao confronto entre eles, o filme mergulha no passado e conta o que se passou com os dois, tanto na sua amizade de outrora, quanto no encontro com Tashi. Ele usa e abusa das hormonas deles, como a personagem de Jeanne Moreau fazia com Oskar Werner e Henri Serre, de modo a testar toda a sua potência e a celebrar o feminismo.

Num filme despretensioso e bem-humorado, sem medo de ser erótico, Guadagnino revisita um marco das telas, à sua maneira, com mais eficácia do quer conseguiu com “Suspiria” (2018), executando a sua homenagem sem alarde. Visualmente, dá um apuro singular aos figurinos e à direção de arte.

Pontuação Geral
Rodrigo Fonseca
chalengers-na-raquete-da-levezaNum filme despretensioso e bem-humorado, sem medo de ser erótico, Guadagnino revisita um marco das telas, à sua maneira, com mais eficácia do quer conseguiu com “Suspiria” (2018)