Sexta-feira, 10 Maio

Amores e desamores turcos

Diz Gilles Jacob, antigo presidente do Festival de Cannes, no “Dictionnaire Amoureux du Festival de Cannes”, que no primeiro e segundo dia de exibição de filmes num festival são exibidos aqueles que se consideram os melhores filmes, seguindo-se outros de menor qualidade, até voltarem, num final em crescendo, obras de maior impacto. Em Antália, na competição nacional de cinema turco, essa regra aplicou-se, com o dia 2 a exibir dois dos melhores filmes desta competição até agora: “Brothers Keeper” e “Anatolian Leopard”. Ora no terceiro dia, quer “Pure White” de Necip Çağhan Özdemir, quer “Together, We Shall Die” de Hakkı Kurtuluş e Melik Saraçoğlu, ficaram aquém do esperado, com especial destaque (pela negativa) para este último, com uma debandada geral da sua audiência, reduzida a 1/3 da sua forma inicial

Su Kutlu

Às vezes a querer ser uma espécie de “Amélie”, outras a rasgar o ecrã e a clamar por Wong Kar Wai, “Together, We Shall Die” até parece sair de Bollywood nos minutos iniciais, contando a forma “devastadora” como Ece, uma professora, e Mazhar, um médico, se apaixonam. Há boas ideias por aqui espalhadas por um guião repleto de palha e histórias paralelas que nunca conseguem realmente agarrar o espectador, tornando as 2h40 de filme num exercício de superação. A atriz Su Kutlu consegue ainda assim – com charme e carisma – agarrar a sua personagem bipolar perdida entre a realidade e desejos sórdidos, mas toda a estética do filme é uma verdadeira salada russa pastiche, que imita aqui e ali sem criar uma verdadeira identidade, tentando ainda ser poético, mas acabando numa histeria politica social, algures entre a telenovela, o videoclipe e o filme que quer a força ser artístico. O resultado é desastroso, podendo mesmo declarar-se que estamos perante o melhor pior filme do evento.

 Já “Pure White” não é de todo um mau filme, mas nem sempre é acutilante como julga ser na análise à degradação moral de um homem que mata a amante. Na verdade, conhecemos três gerações cuja moralidade é posta em causa, cada um deles à sua maneira. Mas é nos meandros da investigação criminal e na dúvida se o nosso assassino será ou não apanhado que reside o interesse.

Neste quarto dia, na competição internacional as coisas correram melhor, com o recentemente galardoado em Zurique “La Mif” a encher as telas turcas de realismo “com o drama de uma casa de acolhimento de jovens onde um caso de abuso de sexual entre os “residentes” provoca um desencadear de situações que saem das portas da instituição. Parte-se então para uma viagem à vida dos presentes, analisando-se as relações entre empregados e jovens no meio de um meio que teima em ser emperrado por um sistema excessivamente fechado e frontalmente neutro nas suas relações“.

Nesta secção foi ainda exibido o pouco memorável, mas ainda assim eficaz, “Ali & Ava” de Clio Barnard.

O Festival de Antália prossegue até dia 9 de outubro.

Notícias