Realizado por Pamela B. Green e com produção e narração de Jodie Foster, “Be Natural” (frase que a cineasta tinha no seu estúdio para incitar a que as atuações fossem feitas de forma natural) propõe um novo olhar sobre aquela que foi uma das pioneiras da História do Cinema, Alice Guy-Blaché, um nome “esquecido”, muitas vezes desvalorizado e mal registado pelos historiadores. 

Paralelamente, este é também um documentário sobre o processo de investigação do próprio documentário, um trabalho de detetive na recolha, pelos mais variados locais, de material, muito dele “perdido”, sobre a filha ilegítima de Emile Guy e de Marie Clotilde Franceline Aubert, que se tornaria estenógrafa e datilógrafa da Gaumont antes de transitar para trás das câmaras em 1896. 

Depois de França, Alice viajou e fez carreira nos EUA até que a falência da sua empresa, a Solax, levou-a de volta para a Europa, seguindo a filha, Simone, também ela ligado ao cinema já que trabalhava para empresas como a Fox.

Responsável por mais de 1000 filmes (a maioria curtas-metragens, mas também 22 longas), Alice realizou o seu último filme em 1920, quase morrendo durante a produção devido à gripe. Em 1922, divorciou-se de Herbert Blaché, perdendo o estúdio devido à sua falência. Após essa perda, regressou a França e nunca mais realizou e produziu, e mesmo quando tentou retomar o trabalho nos Estados Unidos, em 1927, fracassou. As dificuldades porque passou atingiram também a publicação das suas memórias, pois já na década de 1960 – e com elas escritas – encontrou dificuldades em encontrar uma editora para as publicar.

São dezenas e dezenas os contributos na forma de testemunhos de cineastas (Patty Jenkins, Anne Fontaine, Peter Bogdanovich, etc), atores (Geena Davis, Janeane Garofalo, Ben Kingsley, etc) e académicos contemporâneos para documentário, para além da recolha escrita, em áudio e vídeo de entrevistas com a pioneira e a sua filha. 

Um trabalho exaustivo, que às vezes se atropela na exposição da informação que tem para mostrar (demasiada informação para um documentário só) e que frequentemente leva a desvalorização da cineasta para um plano global malévolo (de omissão propositada por ela ser mulher), esquecendo que qualquer investigação produzida antigamente era muito limitada às ferramentas da época, onde se comparava informação disponível a curto alcance (bibliotecas, registos civis em territórios próximos) e não a nível global (a carreira de Blanché ocorreu essencialmente em França e depois nos EUA), que a Internet e o networking hoje em dia permitem.

Mas para quem quer saber mais sobre Alice Guy-Blaché este é um documento essencial, que brevemente será adaptado a filme de ficção com a mesma equipa de realizadores.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
Guilherme F. Alcobia
be-natural-a-historia-perdida-de-alice-guy-blachePara quem quer saber mais sobre Alice Guy-Blaché, este é um documento essencial