Depois de colaborarem no thriller erótico “The Voyeurs”, a atriz Sydney Sweeney e o realizador Michael Mohan assentam arraiais no cinema de horror com “Immaculate” (Imaculada), um objeto derivativo de terror religioso que, antes de explodir no seu final em terrenos do gore, apenas se sustenta em jump scares inconsequentes, previsíveis e desgastados que evocam os clichês do género. Assim, não há espanto em que existam tentativas de sustos rápidos, via elevação sonora, de uma ação macabra que afinal é um pesadelo, ou então de um rosto que vigia, desaparece e depois tenta assassinar a protagonista, ou um pássaro a chocar contra uma janela, a querer provocar sobressalto, ou ainda a inclusão de passagens bíblicas crípticas e ambíguas para acelerar um alegado mistério.

Estes pedaços de “déjà vu”, aliados à enésima estória de uma jovem que vai para um convento e encontra nele algo sinistro, abalroam qualquer toque de originalidade num filme que derradeiramente cai na também já batida tecla do “cientista louco”.

No filme, Sweeney é a recém entrada num convento italiano Irmã Cecilia. Após uma experiência de quase morte, aos 12 anos, crê ter encontrado a sua vocação e aventura-se, anos mais tarde, a partir de Detroit, EUA, para um convento em Itália onde freiras moribundas têm acesso a cuidados paliativos. A sua chegada é vista com otimismo por ela e por quem a recebe, ainda mais quando esta declarada virgem se apresenta grávida por imaculada conceção. 

O terror religioso, principalmente quando se socorre da iconografia de base cristã, tem fornecido à 7ª arte bases sólidas para a produção de sucessos. Basta lembrar “O Exorcista” ou até o mais recente “The Nun” como dois exemplos disso mesmo, mas “Imaculada”, não só não apresenta nada de original, como o que recicla de forma requentada não tem nada de próprio, nem mesmo na construção das suas personagens, sejam elas vítimas ou vilões.

No meio disto tudo, além do esforço de Sweeney em dar carisma a uma protagonista que progressivamente se transforma e rasga o cordão da subserviência que lhe impõem, a fotografia de Elisha Christian serve de pulmão para aguentar o guião de banalidades escrito por Andrew Lobel, o qual, mesmo demonstrando de forma raivosa o retomar do controle sobre o próprio corpo por parte de Cecília, usando para isso os objetos simbólicos dessa mesma religião (um crucifixo, um terço, etc) como armas para a liberdade, nunca tem espessura nem interesse em ir um pouco mais além do entretenimento passageiro.

Por isso, aquilo que podia entreter, mas ser também uma conversa emancipadora sobre como a igreja católica vê a mulher (um ser ao serviço do divino para fazer filhos, a quem vai educar os seus ditames), acaba por ser redutor… e já visto ali, além e acolá.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
imaculada-sydney-sweeney-nao-escapa-a-permanente-sensacao-de-deja-vuAlém do esforço de Sweeney em dar carisma a uma protagonista que progressivamente se transforma e rasga o cordão da subserviência que lhe impõem, a fotografia de Elisha Christian serve de pulmão para aguentar o guião de banalidades escrito por Andrew Lobel