Na senda de filmes – como os consagrados a Oskar Schindler (Shindler’s List) ou Aristides Sousa Mendes (O Consul de Bordéus) – que acompanham figuras que salvaram centenas ou milhares de pessoas durante a II Guerra Mundial e o Holocausto, “One Life” é a mais recente incursão, estando em foco o trabalho de Nicholas Winton, um corretor da bolsa britânico socialista que ajudou a resgatar 669 crianças, a maioria delas judia, que corriam o risco de serem assassinadas pela Alemanha Nazi.

Filho de pais judeus-alemães, que emigraram para a Grã-Bretanha no início do século XX, mas assumidamente agnóstico, Winton engendrou o seu plano quando chegou à Checoslováquia, onde foi confrontado com situação precária da população. Estamos ainda no período após o Anschluss (anexação da Áustria pela Alemanha nazi), em março de 1938, com a nova ambição de Adolf Hitler a focar-se na anexação dos sudetos (Sudetenland), onde milhões de alemães étnicos viviam, depois da dissolução do Império Alemão, após a I Guerra Mundial.  No célebre Tratado de Munique, ou Traição de Munique, como grande parte da população checa o caracterizou, Hitler, Edouard Daladier, Mussolini e Arthur Chamberlain acordaram a cedência desse território aos nazis, na esperança que o espectro de uma nova guerra mundial pudesse ser evitada. Nada mais errado, já que Hitler prossegue a sua senda conquistadora quando invade a Polónia em setembro de 1939. É no período até essa entrada acordada na Checoslováquia e invasão da Polónia, que Nicholas Winton, com ajuda de muitas outras figuras locais, começa a retirar crianças do país, estando destinados a elas famílias de acolhimento em território britânico.

Ocupando o ecrã em dois tempos, a elevação do ato de Nicholas Winton, retratado por Anthony Hopkins nos seus últimos anos de vida e por Johnny Flynn quando era mais jovem, é a base de todo este “One Life”, num jeito de felicitação e congratulação à sua atitude, perante a qual se mostrou sempre relutante em colher os louros.

Johnny Flynn

Nessa busca, e na mistura entre o Winston mais velho, o Winston mais novo, os seus feitos e lidar com eles , o filme cai na armadilha do melodrama exploratório, arrancando lágrimas ao espectador, enquanto não arrisca absolutamente nada como Cinema, ou seja, no poder da imagem e som. Por isso, James Hawes, o realizador, pouco faz, entregando um filme na dependência total da sua história, algo que facilmente se encontra melhor explorado numa biografia literária sobre o visado, como aquela que serve de inspiração e que foi escrita por Barbara Winston, a filha de Nicholas. É que cinema, e não nos cansamos de dizer isto, não são meras imagens que refletem ou acompanham o que é dito.

E nesse conservadorismo do storytelling e do uso audiovisual que nunca assume riscos, nem se torna indistinto de tantos outros filmes, as prestações de nomes como os de Anthony Hopkins, Helena Boham Carter e Johnny Flynn só podiam resultar em algo rotineiro, mesmo que seguras por atores de calibre inolvidável.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
one-life-uma-vida-singular-nicholas-winton-o-heroi-relutanteNa mistura entre o Winston mais velho, o Winston mais novo, os seus feitos e lidar com eles , o filme cai na armadilha do melodrama exploratório, arrancando lágrimas ao espectador, enquanto não arrisca absolutamente nada como Cinema