Como uma adolescente expõe, logo no início deste “Road House” (Profissão: DuroPT; Matador de AluguelBR) de Doug Liman, que funciona como um remake de um original de 1989, a sua história tem tudo de clássico do velho oeste. “Os habitantes chamam um herói para ajudar a limpar o bar problemático”, diz-nos a pequena, completando mais à frente com uma referência direta: “Morte no Double X”, de Martin Holly, uma história do faroeste, escrita em 1950, onde seguimos “o intrépido Wade Waco, que nunca conheceu um canalha que não levasse à justiça. Mas Wade nunca tinha visitado o Double X, uma taberna a rebentar de roubos, fraudes, assaltos e assassinatos.” 

Depois de falar deste livro, a jovem questiona Jake Gyllenhaal: “És intrépido, certo?”. O ator, que assume o papel que cabia a Patrick Swayze no final da década de 1980, responde com muitas reservas, mostrando que, além de estar atordoado com a sua vida em geral (vamos percebendo que é um ex-combatente de MMA com problemas em parar de bater nos oponentes), ainda não entendeu a dinâmica do local onde chegou e, particularmente, porque um bando de motards tenta inviabilizar o negócio de um bar insignificante à beira da estrada, na região de Glass Key, na Flórida.

O primeiro terço desta versão contemporânea de “Road House” é bastante decente, sempre tendo em conta as limitações derivativas que a sua história possui, ou seja: um herói com um passado problemático que chega a uma pequena localidade em que todos estão subjugados ao poder de um gangue liderado por um local. É uma história típica do faroeste, mas também de muitos filmes de samurais.

Em 1989, Swayze preencheu com charme e carisma a figura de Dalton, uma espécie de samurai sem senhor (ronin), e agora Jake Gyllenhaal faz o mesmo, mas com maiores dificuldades. É que no campo de quem o acompanha, é dada uma excessiva relevância à figura do rival que quer inviabilizar a tarefa de Gyllenhaal, interpretado por um Conor McGregor, como se tivesse saído de um filme de Guy Ritchie. Estilo, humor e capacidade de lutar não faltam ao lutador de MMA, o qual, à sua maneira, criou uma persona nos ringues e fora deles. Porém, a a sua presença aqui, em Glass Key, soa demasiado artificial, dando sempre a ideia que está fora do tom, a atuar num outro filme. O mesmo acontece com diversas outras personagens, como o interesse amoroso de Dalton, interpretado por Daniela Melchior, e até o xerife local, conduzido por Joaquim de Almeida. As suas personagens já eram diminutas ou irrisórias no filme original, sempre ao serviço do protagonista, mas aqui parecem passar completamente ao lado da história, seja nas sequências de ação, seja na componente de romance.

 No filme original, o grande vilão que submetia os locais ao seu poder era interpretado por Ben Gazzara, que apesar de ver a sua personagem construída a partir de lugares comuns, sentia-se orgânico. Aqui, nada disso acontece e o filme segue a confrontação de Dalton contra tudo e todos, incluindo ele próprio, sem grande crença ou interesse, além da habitual distribuição de pancada de forma estilizada (mas não muito memorável, quando o humor não aparece em cena). Além disso, havia uma pequena participação no filme de 1989 que estava repleta de entusiasmo e carisma: Sam Elliott aparecia a certo momento, como uma espécie de mentor de Swayze, uma presença que não tem réplica nesta nova versão, esvaziando ainda mais o filme de magnetismo.

Por isso mesmo, e sempre tendo em conta que o original se tornou uma peça de culto pelo carisma de Swayze, elevado pela dureza impenetrável de Gazzara, a versão 2024 de “Road House” torna-se um parente mais pobre desta equação pastiche. Gyllenhaal cumpre e não envergonha como Dalton, mas tudo o que o rodeia, ora está mal aproveitado ou desenvolvido, como as personagens de Melchior ou Almeida, ora parecem estar noutro filme, como McGregor.

O resultado é um objeto desconexo e pobre, que rapidamente se esquece num currículo como o de Gyllenhaal.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
apenas-jake-gyllenhaal-enriquece-a-nova-versao-de-road-houseGyllenhaal cumpre e não envergonha como Dalton, mas tudo o que o rodeia ora está mal aproveitado ou desenvolvido, como as personagens de Melchior ou Almeida, ora parecem estar noutro filme, como McGregor.