Logo após derrubar o regime de Saddam Hussein, em 2003, as nações aliadas ajudaram a criar um novo governo iraquiano baseado no sectarismo. São os miúdos nascidos nesse pós-guerra, que cresceram com as desigualdades criadas por esse sectarismo, além do surgimento de múltiplos casos de corrupção, que dão vida a este documentário “Immortals”, que tem por base a revolta iniciada em 2019, que pretendia derrubar o regime nascido em 2003 e formar um novo governo não sectário.

Como seria de esperar, para todos aqueles que se querem manter no poder, as autoridades iraquianas responderam com uma força brutal que vitimou 787 pessoas. São dois sobreviventes dessa revolta, o “outono árabe”, Mohammed al Khalili e Melak Madhi (Milo), que acompanhamos principalmente neste filme assinado pela suíça Maja Tschumi, a qual, através de capítulos – “Hidden Battles” (Batalhas Ocultas), “Confrontations” (Confrontações) e “Decisions” (Decisões) – faz uma incursão fulminante sobre o que é ser jovem neste país atualmente. 

Hidden Battles” (Batalhas Ocultas) dá mais atenção às experiências pessoais de Milo, através de cenas dramatizadas que captam a suas dolorosas recordações com a sua família conservadora, a qual puniu-a de diferentes maneiras e que vão desde o queimar do seu passaporte, que a deixou impossibilitada de sair do país, até à destruição de pertences, incluindo roupa.

No segundo capítulo,“Confrontations” (Confrontações), o  foco muda para o fotógrafo Al Khalili, que percebeu que a sua câmara era a melhor arma para a revolta em 2019. Já em “Decisions” (Decisões) olhamos para o futuro de todos e as opções que se lhes afiguram pela frente. 

Indo além dos problemas coletivos e da instabilidade política e social, “Immortals” – na competição principal do CPH:DOX – revela dramas pessoais e choques geracionais ideológicos que nos levam à sociedade acirradamente patriarcal, e como o peso do islão influencias as decisões vinculadas ao estado. E ao ser movido, em grande parte, pela história de duas mulheres, naturalmente que o filme traz problemas muitos específicos relativamente à vivência na nação desse sexo.

Usando imagens de arquivo, entrevistas e reencenações para diminuir o risco de filmar situações reais, Maja Tschumi casa as suas imagens com as de Al Khalili, mantendo sempre no lado dos objetos a condução e estrutura do seu documentário. São eles os seus guias e é ela que se molda a eles, e não o inverso.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
immortals-que-futuro-para-a-juventude-iraquianando além dos problemas coletivos e da instabilidade política e social, “Immortals” revela dramas pessoais e choques geracionais ideológicos que nos levam à sociedade acirradamente patriarcal, e como o peso do islão influencias as decisões vinculadas ao estado.