Frequentemente, quando os documentários demoram vários a serem realizados, como é o caso de “Daughter of Genghis”, que acompanha 7 anos da vida da sua protagonista, Gerel Byamba, os pressupostos iniciais que movem a construção dos filmes alteram-se, muitas vezes devido a mudanças radicais do estilo de vida dos objetos visados, mas também do panorama social e político dos países que funcionam como pano de fundo para essas vidas.

Sem saber o que o futuro lhe reservava, o conhecido jornalista dinamarquês Knud Brix e o fotógrafo Christian Als começaram a sua jornada fílmica com uma ideia bem concreta: seguir a vida de Gerel, que concilia o seu papel de mãe de um rapaz de seis anos, Temuulen, e o seu envolvimento ativo nos movimentos ultranacionalistas mongóis, cujos principais alvos são as multinacionais chinesas que exploram os recursos naturais do país. 

A Gerel que conhecemos inicialmente é uma guerrilheira ou terrorista, consoante a interpretação individual de cada um. Com o desígnio de manter a raça mongol pura, num país cercado por duas super potências conhecidas pela pouca amabilidade com a vizinhança (China e Rússia),  esta mulher vagueia pelas cidades em busca de antros de prostituição para evitar, à força, a exploração mongol e qualquer possibilidade de miscigenação. Usando a suástica com orgulho, mas afastando-se dos nazis, que acusa de roubarem um símbolo mongol com outra interpretação e significado, Gerel vagueia por universos essencialmente masculinos a pregar a sua palavra. Feminista de um jeito muito particular, ela decide então formar um grupo ultranacionalista constituído essencialmente por mulheres, tentando a todo o custo evitar a apropriação territorial capitalista das duas potências que a rodeiam e que vão se apropriando de negócios no seu país.

Citando Genghis Khan como modelo conquistador, afinal a Mongólia chegou a submeter a China ao seu poder, Gerel vai progressivamente mudando a sua forma de estar e ver a vida quando é forçada a dar um futuro mais seguro e estável ao seu filho, órfão de um pai que faleceu numa mina liderada pelos chineses. Do ódio profundo e orgulho racial mongol, passamos à pura sobrevivência movida a amor maternal, mudando o filme radicalmente de orientação. Porém, Brix e Als nunca alteram a sua abordagem formal, captando 7 anos de uma vida repleta de transformações de uma mulher difícil de decifrar.

Vale a pena ver este “Daughter of Genghis”, em competição no CPH:DOX, mesmo que o filme comece por estudar as origens do nacionalismo mongol e termine num estudo pessoal sobre a personalidade de Gerel.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
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