Com vasta experiência na realização, a qual inclui produções internacionais de alto perfil, como a adaptação da obra de Stephen King “The Dark Tower”, o dinamarquês Nikolaj Arcel volta a trabalhar com Mads Mikkelsen depois do sucesso de “A Royal Affair” (2012), filme que, tal como este “The Promise Land(A Terra Prometida), é uma peça de época que descose novos episódios da história do país escandinavo no século XVIII.

Mas se “A Royal Affair” centra a sua atenção na corte do rei Christian VII da Dinamarca, doente mental, e no romance entre a sua mulher, Caroline Matilda da Grã-Bretanha, e o médico real Johann Friedrich Struensee, “The Promise Land” tem como cenário a inóspita Jutlândia, uma península que atravessa territórios da Dinamarca e do extremo norte da Alemanha, que é escolhida pelo capitão Ludvig Kahlen (Mikkelsen), agora reformado do exército, para estabelecer uma colónia.

Visto como um território de desolação onde é impossível cultivar o que quer que seja, a Jutlândia acaba por ser tratada como o local sensato para manter o capitão – que ascendeu na hierarquia por conquistas militares e não sanguíneas – fora da proximidade à corte, resvalando-se no processo como uma forma perfeita de manter para a nobreza o que é da nobreza, enquanto se valoriza este antigo militar com o seu pedido.

O que se segue é uma jornada de um homem que desafia as probabilidades a partir de um segredo de cultivo que ele mantém longe dos olhares alheios: uns sacos de batatas que acredita que conseguem florescer naquelas condições geológicas (tipo de solos) e climatéricas (temperaturas baixas) extremas.

Com os códigos dos filmes do velho oeste (western), Arcel conta com a obstinação do capitão como motor para o desenrolar de uma história que tem tudo de luta de classes a partir de uma figura que vai encontrar noutro proprietário local, Frederik De Schinkel (Simon Bennebjerg), o maior obstáculo ao sucesso de Khalen. Com uma crueldade infindável e uma superioridade de nobreza (por direito herdado) assumido como elevação natural, De Schinkel age como força de poder única na região que tem de manter sobre controle, atacando colheitas e quem as cultiva, sem qualquer pingo de remorso.

Mads Mikkelsen nasceu para este tipo de papéis que assentam na perseverança do contra tudo e contra todos. Mas é na evolução dos eventos e da sua personagem que ele entende que a ideia do homem solitário que supera todos os obstáculos dificilmente trará resultados favoráveis e a felicidade que se encerra em si, acolhendo na empregada doméstica viúva Ann Barbara (Amanda Collin) e numa criança cigana órfã, Anmai Mus (Melina Hagberg), forças extra para concretizar os seus objetivos para com o território, mas igualmente para preencher o vazio que tem em si. Há mais na vida que apenas a sua obstinação em ter terra, cultivar nela, e ser validado pela corte, e são essas duas personagens femininas que, de alguma maneira, conseguem cultivar nele emoções que se julgava serem impossíveis de florescer.

Rasmus Videbæk, na direção da fotografia, captura a austeridade dos solos e clima para o sucesso do capitão, recorrendo a um naipe de cores frias, entre o cinza e o azul, e planos de conjunto e panorâmicos, que alargam o espectro da desolação, a qual se estende também ao interior de Kahlen, seco de emoções e casmurro nas ambições. Essa atmosfera que se sente sempre gélida e pesada, é ainda asfixiada pelo cerco imposto por De Schinkel, com Bennebjerg a entregar a prestação de uma vida. Mas é a montagem acertada de Olivier Bugge Coutté e a banda-sonora de Dan Romer que nos transportam efetivamente para uma ambiência de permanente thriller, mesmo no que concerne ao desenvolvimento das relações pessoais e amorosas.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
mads-mikkelsen-e-simon-bennebjerg-brilham-em-the-promise-land-a-terra-prometida Há mais na vida que apenas a obstinação em ter terra, cultivar nela, e ser validado pela corte, e são duas personagens femininas que, de alguma maneira, conseguem cultivar no protagonista emoções que ele julgava serem impossíveis de florescer.