A tremenda vitalidade do cinema romeno já deixou de ser novidade e passou a ser mesmo esperada.

Veja-se, e não por exemplo, o caso mais recente ocorrido ainda este ano com o Urso de Ouro do festival de Berlim para o corrosivo filme de Radu Jude “Bad Luck Banging or Loony Porn“, reconstituindo um caso verídico de um escândalo sexual. Aliás, é precisamente essa aproximação à realidade que mantém a sua frescura.

No caso, descrevendo a atenta e detalhada investigação sobre a tragédia ocorrida em 2015, quando um grupo de 27 jovens morreu durante um espetáculo de heavy metal na sala Colectiv, em Bucareste, deixando outros tantos feridos em estado grave devido a infeções provocadas por desinfetantes inadequados que levantou um processo de corrupção no seio da indústria médica de relevantes implicações políticas. No centro da investigação está o jornalista desportivo Cåtålin Tolontan numa trama gerida com critério e sentido narrativo pelo cineasta Akexander Nenau que acompanhou durante mais de um ano os pontos de vista de vários intervenientes.

Tudo começa com um clip captado por smartphone, que relata com a mesma urgência e curiosidade mórbida das tragédias captadas de casos verídicos. Durante o ritmo desenfreado, em que a banda se atira a uma torrente sonora de forte contestação contra a corrupção, eclode a tragédia no momento em que o fogo de artifício usado no espetáculo se propaga ao teto de acrílico e provoca a tragédia. Imagens austeras que fazem recordar as do ataque terrorista na sala de espetáculos ao Bataclã, no mesmo anos de 2015 em Paris, em que morreram diversas pessoas e cujos registos vídeo se tornaram virais.

Voltando a “Bad Luck Banging or Loony Porn“, não deixa de ser curioso como Colectiv mantém até uma certa afinidade com o filme de Jude. Não só pela proximidade ao documentário de observação, também ele baseado num clip de como pelo olhar acutilante cuja abordagem cinematográfica transforma esse ponto de vista aproximado em cinema puro, quase narrativo.

É nessa aplicação detalhada de mise en scène junto de sobreviventes, familiares, políticos e, sobretudo, jornalistas de investigação que gera um arco narrativo que ultrapassa a mera dimensão do real. E é também por aí que Colectiv vê reforçada a sua mensagem de grito social colectivo que rima até com as grandes histórias dos heróis dos media.

Pontuação Geral
Paulo Portugal
Jorge Pereira
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