“Nós somos a geração, nós somos os monstros” proclama um dos jovens de Te Prometo Anarquía, sob uma posição de profundo pesar e simultaneamente exibicionista perante os seus respetivos amigos, estes prontos para serem levados numa “trip” ao sabor das drogas que, entretanto, funcionam como o seu “porto de abrigo”. Durante esta sequência, é possível vislumbrar uma discreta imagem de Trainspotting, o badalado filme de Danny Boyle que parece servir como uma influência injectada e, tal como as perspicazes frases que são declaradas aleatoriamente, uma desculpa “esfarrapada” para tudo aquilo que vem a seguir.

O título condiz com a própria condição do filme. O mexicano Julio Hernández Cordón (Gasolina) constrói um conto urbano de dois amantes adolescentes num mundo dependente da violência, da droga e do dinheiro fácil, seres incapazes de instruir raízes, quer afectuosas ou profissionais, e dotados de uma inabilidade de integração social. Eles são intrinsecamente anárquicos, confusos até à “quinta casa”. O mesmo se reflecte no filme, desorientado e mesmo envergado por toques de magia ou trunfos escondidos nas suas referidas mangas.

A começar por esses ditos “jogos de cintura” pelo qual a obra é bem-sucedida, como por exemplo – o trabalho de criação das duas personagens principais (interpretados por Diego Calva Hernández e Eduardo Eliseo Martinez), porém, dilacerado num ambiente de realismo formalizado e ocasionalmente pastiche. A sensibilidade fotográfica que invoca o erotismo em algumas sequências poderia assumir-se como um dos factores simbióticos para a narrativa, mas esta é irresponsavelmente contrastada com uma câmara infértil que tenta culminar o realismo das ações. Ou seja, tudo são frutos caídos perante um composição desorganizada de estilos por parte de Cordón e a sua dificuldade em encontrar a melhor maneira de encerrar a sua obra, que não parece “embicar” para lado algum.

Te Prometo Anarquía é um filme paralelo com Paranoid Park, de Gus Van Sant, o qual combina juventude, skates, crime e culpa. Todavia, a sensibilidade requerida apenas encontra-se na flor da pele, até porque, e voltando a citar os longos poemas da personagem aspirante a poeta ambulante, os versos são aclamados aleatoriamente.

Pontuação Geral
Hugo Gomes
te-prometo-anarquia-por-hugo-gomesSente-se empenho por parte de Julio Hernández Cordón, mas nunca a aptidão de contornar o incontornável.