Quarta-feira, 24 Abril

Festival de Locarno dá prémio de carreira a Dario Argento

A última noite da 74ª edição do Festival de Locarno foi agraciada por uma enorme surpresa. Depois de assistir à atuação de Dario Argento em “Vortex“, de Gaspar Noé, exibido durante o festival na Piazza Grande, o evento decidiu surpreender o italiano com um prémio pelo conjunto da sua obra.

Um prémio especial que foi entregue por um amigo especial, John Landis, que havia recebido na mesma praça, na noite anterior, o Pardo d’onore.

Presente por diversas vezes no festival, o mestre do terror italiano participou recentemente em 2014 na retrospectiva Titanus. Posteriormente, surgiu em 2016 como presidente do júri do Concurso Internacional, e novamente em 2017 marcou a sua presença numa retrospectiva consagrada a Jacques Tourneur, tendo ainda participado numa homenagem adicional a George Romero.

Recorde-se que a atuação de Dario Argento em “Vortex” conquistou a maioria da crítica e público em Locarno. Para conseguir essa performance, Gaspar Noé explicou ao C7nema o que disse a Argento: “Tu és o realizador, eu sou só um estudante. Tu tomas conta da personagem, eu da câmara (risos)“. Noé não tem dúvidas que Argento é muito carismático, além de ser muito simpático. “Não há muitos realizadores em que tenha o desejo de os filmar e almoçar e jantar todos dias. Talvez exista um, além dele: David Cronenberg, que é um bom ator também. Mas há pessoas na vida que acolhes como ser humano, como artista e como showman. Sempre que Argento está em palco as pessoas riem e aplaudem. Fiquei muito surpreendido que ninguém, antes de mim, tenha lhe proposto um grande papel num filme. Ele tem imenso carisma“.

Vortex” aborda o envelhecimento e a perda de capacidades físicas e mentais. No centro da história está um casal, ele doente cardíaco, ela com uma doença neurológica degenerativa. Sobre o envelhecer e o “medo”, Argento já tinha dito em outubro de 2020 ao C7nema, por ocasião do Ca’ Foscari Short Film Festival, que o seu maior medo atual era o coronavírus: “E não só por ele ter atrasado os meus planos de filmagem de “Occhiali neri” e deixado a Itália em peso confinada, prendendo-me dentro de casa durante quase seis meses, saindo mesmo só para comprar comida. A covid-19 mete medo porque representa a nossa impotência e ela nos leva a um desânimo coletivo. Por isso, ela é a peste do século XXI. O meu cinema é universal porque fala dessas impotências que nos assombram, ao colocar diante de um perigo que não obedece uma lógica de sanidade. Os meus monstros são criaturas que têm interesse na vida alheia, que invadem a rotina do próximo. Como o coronavírus o fez.”

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