Muita atenção a Jenna Ortega, a mais recente atriz a fazer a transição do universo Disney para o cinema, desconstruindo assim uma imagem que normalmente tem sido feita (por outras) a partir da participação em filmes-choque (veja-se Vanessa Hudgens, Selena Gomez ou Miley Cyrus). 

E muita atenção porque à sua beleza e jovialidade é acrescentada uma grande dose de carisma, drama e expressividade corporal para criar uma personagem, Vada, que tem de superar o dia a dia depois de uma tragédia acontecer na sua escola, deixando-a a ela e a outros dois colegas a terem de lidar com um trauma.

Tem surgido nos últimos anos um olhar cuidado e muito preciso para jovens mulheres, a entrar na / em plena adolescência, que têm de lidar com um mundo que não reconhecem, nem confiam e ao qual respondem com estranheza, alienação e isolamento. “Eighth Grade” mostrava isso e “Share” também, embora neste último,  tal como “The Fallout”, seja um evento chocante e traumatizante que serve de base para para se falar de como é viver na idade das experiências, definição da identidade e do moldar da personalidade num espaço-tempo aparentemente incompreensível.

Vada não viveu sozinha a tragédia, e com ela encontramos outra adolescente, Mia (Maddie Ziegler, eficaz), uma rapariga super popular, com 80.000 seguidores no Instagram, mas ninguém para falar em casa. Em situações normais, dificilmente as duas se tornariam em amigas, mas será com ela que Vada vai sentir uma maior proximidade e partilha de sentimentos para iniciar uma tentativa de superação e de recuperação.

O que encanta mais neste “The Fallout”, vencedor do SXSW Online 2021, é a candura e ternura que a realizadora Megan Park (atriz da série “A Vida Secreta de uma Adolescente Americana” ) coloca na sua protagonista e história, filtrando os vários clichés e lugares-comuns da vida destes “Kids” da geração Instagram e Tik Tok, de forma a que cheguem reconstruídos aos olhos do espectador, sentido-se uma verdadeira renovação e uma sensação de lufada de ar fresco (um pós-Diablo Cody/Jason Reitman) num subgénero sobrecarregado por obras sobre essa construção sociológica a que chamamos adolescência.

Tanto Bo Burnham como Pippa Bianco conseguiram também isso nos filmes mencionados e a senhora que se segue é Megan Parks, articulando um guião cirurgicamente refinado, com atenção ao detalhe, em torno do jogo de relacionamentos de Vada com os amigos, os pais, a irmã, a psicóloga, o mundo e – mais importante – com ela mesmo, expondo nisto o ato mais intimo de todos que é mostrar as fragilidades e duvidas existenciais que a envolvem. E tudo engendrado num filme esteticamente aprazível, ao qual a diretora de fotografia Kristen Correll contribui com elegância e distinção.

E, mostrando uma história que tem todo um tom pessoal, Megan entra também por uma tema complexo e sensível da sociedade norte-americana, transformando esta sua estreia também ela num objeto coletivo, até militante, tão doloroso como urgente. 

Pontuação Geral
Jorge Pereira
the-fallout-a-angustiante-travessia-pos-tragediaMostrando uma história que tem todo um tom pessoal, Megan Parks entra também por uma tema complexo e sensível da sociedade norte-americana