Venha quem vier, não existe humor tão certeiro na atualidade como aquele que experienciamos nas produções da britânica Aardman.

Estas animações britânicas em stop-motion, que imortalizaram personagens como Wallace, Gromit e, por fim, Shaun the Sheep (Ovelha Choné), trabalham as gags de forma astuta, ligadas a referências, mas sem nunca depender delas. Por sua vez, é o processo criativo de tão trabalhoso grafismo que nos faz maravilhar com a proeza de execução dessas mesmas piadas. E sim, há algo de muito british na sua condução, invejavelmente ligado ao minimalismo do slapstick, quase digno dos primórdios cinematográficos, muito mais com o universo de Shaun the Sheep, onde exercícios sem diálogos audíveis assumem-se como desafios para o próprio storytelling. Se direcionarmos estas produções para as camadas mais jovens, devemos ter em alerta as propostas verborreicas e musicadas dos concorrentes.

Personagem secundária (surgiu pela primeira vez em 1995) que depressa foi promovida a estrela do seu próprio programa de televisão com mais de 130 episódios e que consequencialmente obteve uma aparição cinematográfica em 2015, é agora a repetente destas andanças na grande tela com Farmaggedon, onde o seu universo choca com a panóplia referencial sci-fi. Não brilhando no seu guião, visto que refaz os lugares-comuns da invasão alienígena, é na narrativa minada de easter eggs e sátiras da cultura popular que se concentra a grande força desta aventura do ovino matreiro que tenta ajudar uma criança de outro planeta.

Desde 2001: Uma Odisseia no Espaço até Encontros Imediatos de Terceiro Grau, Farmaggedon cita toda uma constelação capaz de deliciar os mais jovens graças à graciosidade de um humor universal, enquanto ao mesmo tempo encanta adultos com a sua capacidade de comunicar. Claro, sem esquecer a qualidade da animação, do por vezes desprezado stop-motion.