Realizado, escrito e protagonizado por Nadège Trebal, colaboradora de muito do cinema de Claire Simon, a obra apresenta-nos Franck (Arieh Worthalter, Girl), um desempregado que é demitido do seu “trabalho ilegal”, mas que consegue uma nova oportunidade de “sustentar” a sua família num cargo distante. Por entre discussões com a sua mulher (interpretada por Trebla), eles chegam a acordo do valor que motivará o seu retorno a casa: doze mil. Mas o dito “emprego” não é bem aquilo que Franck imaginava e por entre algumas aventuras e desventuras, vê-se emaranhado em esquemas e biscates ocultos. 
Como havia mencionado, Trebal nunca abdica ao realismo encenado e contamina este ambiente pastiche com uma instintividade musical sem receios de plasticidade. Nesses encargos, um filme como Jessica Forever, da jovem dupla Caroline Poggi e Jonathan Vinel (assim como outros integrados no manifesto ‘Flamme’), assumia facilmente esse lado de renegado do Mundo, enquanto Douze Mille debate-se constantemente pelo tom a ceder, ao mesmo tempo que paira em demasia nas fantasias masculinas, dando o ar de dúvida quanto à fidelidade da figura patriarcal. É certo que Nadège Trebal costura uma crítica a essa visão ditamente masculina quanto à missão de sustento familiar. 
Contudo, as mesmas nuances são deslocadas da jornada deste “herói”, onde uma lavagem obscura, diversas vezes pseudo-alarmista, desvia a nossa atenção das questões da precariedade ou do território do proletariado. Para além disso, o sexo, que como sabemos é de uma imperativa social a ser discutida, revela-se num impasse narrativo em todo este jogo de compromissos e cumplicidades. 
Pontuação Geral
Hugo Gomes
douze-mille-por-hugo-gomesAntes de qualquer retrato ambicionado de neorrealismo, ou do sempre em voga cinema verité, Douze Mille propaga um tom mais escapista, fantasioso e, por isso, eclético.