Em “Périphérique Nord” (“Via Norte” em Portugal), o jovem cineasta português Paulo Carneiro usava como “desculpa” os carros e o universo do Tuning para conversar com portugueses emigrados na Suíça sobre as suas vidas, comunidade e identidade.  Em “Sting Like a Bee”, o realizador e fotógrafo premiado Leone Balduzzi, também conhecido como Leone, começa também por falar num veículo motorizado, a Piaggio Ape (abelha em italiano), para nos levar até um grupo de jovens que reside nos subúrbios do centro e sul da Itália, transformando-os num objeto de observação, mas igualmente peões de uma ficção dentro de uma estrutura documental.

É um trabalho admirável, muitas vezes hilariante e não raras vezes tocante, que tem o seu quê de retrato geracional que nos aporta – com direção e sensibilidades diferentes – ao que o videoartista e cineasta italiano Yuri Ancarani fez com “Atlantide”, quando nos levou numa trip sensorial sobre alienação pela pela laguna adentro da região veneziana.

Aos enormes silêncios de “Atlantide” e imagens visualmente arrebatadoras e contemplativas, “Sting Like a Bee” responde com uma empolgante e vasta banda-sonora, além do peso das palavras que ecoam da boca dos entrevistados –  com a desculpa de um casting que se torna o próprio tema do filme – que se agarram a um veículo do passado, a Ape, para mostrar uma trend local com tudo de kitsch. E nessas palavras ecoadas, fala-se de família, de relacionamentos, educação e questões sociais, sempre a partir de gentes que raramente chegam ao cinema. 

Repleto de humor, muitas vezes transportado a partir de uma certa ignorância (há quem responda que a Sida é uma espécie de cigarro eletrónico), “Sting Like a Be” revela-se um objeto híbrido fascinante, com tanta energia como ternura, sempre observando e respeitando os seus objetos de forma profundamente delicada e doce, explorando a relação destes entre o artificial e natural, sempre numa estranha harmonia.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
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