Durante os primeiros trinta minutos, a montagem de António Gonçalves ainda segura o conjunto de vinhetas episódicas que “Salgueiro Maia -O Implicado” revela ser, mas o guião de João Matos, em modo de coleção de efemérides, começa a descambar para algo que só se pode descrever de uma maneira: um trailer estendido de uma (eventual) série de TV. 

E essa sensação chega a ser desrespeitosa para o espectador de cinema (que paga bilhete), quando se entra na relevância de Maia nos eventos de 11 de março e 25 de novembro, além da sua ida para os Açores. Tratadas às três pancadas e com uma decoupage sofrível, as cenas ligadas a esses momentos transpiram imperfeições e denunciam alguma pressa, um “despacho” que se acentua de maneira ainda mais gritante, numa cena francamente inenarrável: essa mesmo, em que um grupo de protestantes atira pedras e se manifesta à porta de casa de Salgueiro Maia (nem nas novelas vemos uma cena assim). 

Prometendo a “história nunca contada” de um dos maiores heróis de Abril, Fernando José Salgueiro Maia, o filme de Sérgio Graciano não entrega nada mais poderoso que um perfil de 2 páginas de um qualquer jornal ou revista pode oferecer. Meramente ilustrativo e superficial (fixa a ideia de herói injustiçado, nada mais), e com uma banda sonora que se resume na repetição das sensações que vemos no ecrã, “Salgueiro Maia -O Implicado” só encontra no seu protagonista, Tomás Alves, um verdadeiro registo positivo.

E a desculpa das limitações orçamentais e outros problemas (como a pandemia, que mexeu nos timings da produção), não pode ser usada quando falta um dos elementos mais básicos, mas sagrados: o ser cinema (linguagem) em todos os momentos e não só alguns.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
salgueiro-maia-o-implicado-uma-superficial-colecao-de-vinhetasUma coleção de efemérides meramente ilustrativa