♪♪ Era uma vaca leiteira, não era uma vaca qualquer, dá-nos leite e manteiguinha, mas que vaca tão fofinha, dlim-dlão, dlim-POW! ♪♪

Esta letra alterada de uma canção tão próxima de nós, podia ser o resumo do novo filme de Andrea Arnold, realizadora multi-premiada em Cannes por “Red Road“, “Fish Tank” e “American Honey“.

Cow” é um documentário observacional, empático e sóbrio, onde alinhados à altura do ponto de vista de duas vacas leiteiras, mãe e bezerro, seguimos a sua vida sujeita à vontade dos humanos: a ordenha, a descorna, a vacinação, a marcação…

De câmara livre, mas dura e inflexível, (mesmo quando leva cacetadas das protagonistas), Andrea Arnold cria um objecto de pureza visual com o propósito de nos deixar a sós com os nossos pensamentos, enquanto avaliamos, criticamos ou desvalorizamos as imagens cada vez mais íntimas que vão sendo enquadradas na tela. Arnold reforça esse acto com a remoção de quase todos os artifícios que nos possam influenciar, não usando voz-off e colocando os rostos dos humanos fora de campo. Digo “quase”, pois a interpretação das músicas que ressoam pela vacariça acabam por marcar a atmosfera.

Carícias e lambidelas, mugidos e berros, olhos que nos parecem lacrimejantes e patas irrequietas são detalhes de um ciclo de vida, pelo qual somos levados a empatizar antropomorficamente com as vacas. A realizadora inglesa deixa ao nosso critério a criação do espelho emocional, onde sem esforço, iremos compor paralelos com o ser humano: a infância brincalhona, a adolescência rebelde, a fase adulta com a maternidade, o cansaço da velhice.

Mas apesar de conseguir manter activo o nosso espírito crítico, sem entrar no propagandismo, “Cow” acaba por se desgastar a si próprio através da insistência repetitiva em determinados ciclos de imagens.

A monotonia acaba por se instalar em nós e é com alguma secura que chegamos ao final destas vidas cansadas. Mesmo quando enxergamos que o fim da vaca leiteira não termina com a sua idade, mas sim com a sua utilidade…

Pontuação Geral
Daniel Antero
Jorge Pereira
cow-era-uma-vez-uma-vaca Andrea Arnold cria um objecto de pureza visual com o propósito de nos deixar a sós com os nossos pensamentos, enquanto avaliamos, criticamos ou desvalorizamos as imagens cada vez mais íntimas que vão sendo enquadradas na tela