“Torture. Self-inflicted agony. Blood from a stone”

Difícil entender a queda abrupta de interesse no cinema de Mia Hansen-Love desde que lançou “L’Avenir” (“O Que está por vir“). Desde aí, apesar de manter-se acima da linha de água na qualidade e interesse das suas obras, como se viu em “Maya”, houve uma clara perda de fulgor nos seus estudos de transição de vida (física e psicológica) sem marcas de uma verdadeira evasão ou escape, sempre questionando o estabelecido.

Bergman Island”, em competição à Palma de Ouro, é facilmente o seu mais desinteressante filme, não pelo tema/homenagem que coloca em cima da mesa em torno de Ingmar Bergman, mas pela forma como entre o paternalismo e o sonambulismo, apenas com os laivos – aqui e ali – de rebeldia quando questiona homem vs autor e cose as linhas de um enredo que coloca um casal de realizadores (Roth e Krieps) a caminho da ilha de Faro, onde Bergman passou grande parte da sua vida e encontrou muita da sua inspiração artística.

A dupla vai pernoitar numa casa onde dormirão no quarto onde Bergman filmou “Scenes From a Marriage“, um filme em torno do qual se costuma brincar, afirmando que “fez milhões de pessoas divorciarem-se”.

A partir dessa chegada, qual peregrinação qual quê, onde não falta um safari embutido como elemento cómico falhado, a dupla movimenta-se entre conversas sobre Bergman, dando ao espectador detalhes genéricos da sua obra, enquanto paralelamente entrega apontamentos banais da sua própria união. Do filme banal e com pouco interesse passamos rapidamente à letargia total quando a mulher diz ter uma ideia para um filme e começa a contá-la, assistindo o espectador a ele. Entramos então no modelo do filme dentro do filme, que esvazia-se completamente de sentido e interesse por apenas aborrecidamente replicar material derivativo de Bergman, numa espécie de fusão com os dilemas habituais do cinema de Mia Hansen-Love.

É nesta fase que “Bergman Island” se tornae extremamente aborrecido e nem Tim Roth, Vicky Krieps, Mia Wasikowska ou Anders Daneilsen Lie conseguem dar dinâmica a um material profundamente comatoso, onde não faltam diálogos (muito) pobres, as já habituais escolhas musicais fora da caixa, e emoções camufladas de material reflexivo que na verdade apenas revelam ser ensaios auto-masturbatórios.

No final, “Bergman Island” é um verdadeiro desastre, um pseudo filme supostamente acompanhado pelo fantasma de Bergman, mas na realidade tudo é tortura e agonia auto-infligida.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
Guilherme F. Alcobia
bergman-island-tortura-e-agonia-auto-infligida "Bergman Island" é um verdadeiro desastre, um pseudo filme supostamente acompanhado pelo fantasma de Bergman, mas na realidade tudo é tortura e agonia auto-infligida.