E não é por menos, tal como se pode ler no final deste Enquanto a Guerra Durar. O regime ditatorial terminou com a morte do próprio General Francisco Franco, que contradiz com o caso português em que houve uma intervenção militar que colocou fim a uma ditadura de 40 anos. Em Espanha, o processo de superação desses sanguinários tempos franquistas decorreu numa espécie de naturalidade. 
Talvez seja por isso que o mais recente filme de Alejandro Amenábar diga mais aos nuestros hermanos que propriamente a nós, não somente pela memória de um tempo não tão distante e assombrado, mas como o passado entra em cumplicidade com o presente. Ficamos a assistir a esta ascensão do franquismo em pé de igualdade com a propagação do partido Vox nas últimas eleições espanholas e o discurso da sua personagem principal no climax da narrativa, Miguel de Unamuno (Karra Elejalde), figura ímpar ligada à Universidade de Salamanca, cujas palavras famosas podem ser apropriadas para os nossos dias, e cujo futuro adivinha um tumulto politico. 
Em relação a Cinema, é mais que triste testemunhar a queda de um dos grandes nomes do cinema espanhol dos anos 90 e também início do século XXI, aqui a demonstrar a sua transformação num perfeito anónimo academista. Já devíamos estar alarmados com esta situação, basta ver o seu Ágora (2009), que mesmo com a agressividade temática, apresentava-se como uma rendição aos códigos do cinema mainstream e, consequentemente, uma clara perda identitária. Sim, como referido, é o academismo a dominar todo este retalho episódico da elevação do fascismo (com silenciosos elogios ao calculismo frio de Franco, aqui interpretado por Santi Prego) e o desprezo dos sábios homens em impedi-lo. É um filme rigoroso que dificilmente se liberta dessa prisão formal nos mais diferentes níveis da sua compostura.
Contudo, mais uma vez mencionando, é no paralelismo com a atualidade que colhemos os pouquíssimos frutos desta produção. E tal nota-se na mera sequência em que o protagonista e o seu comparsa de longa-data debatem sobre os defeitos das visões politizadas de cada um. Troca de “factos”, argumentos e frases feitas, aqui numa discussão ocorrida em plena Guerra Civil Espanhola, mas que tão bem poderiam integrar qualquer reação escrita nas nossas redes sociais. Afinal, não estamos muito diferentes, apenas deslocados. 
Pontuação Geral
Hugo Gomes
Jorge Pereira
mientras-dura-la-guerra-enquanto-a-guerra-durar-por-hugo-gomesFora o tema, Alejandro Amenábar rendeu-se à "ditadura" do academismo