O imparável realizador de Magic Mike, a trilogia Ocean’s e Traffic avança num projeto “de encomenda” em denúncia aos Panamá Papers.

Já há muito se teorizava que o signo motivador do cinema do sempre prolífero Steven Soderbergh era o dinheiro, não no sentido literal da produção dos filmes ou o rendimento concretizado, mas pela temática destes, sempre gerados através dos contos de cifrões. E assim chegamos ao culminar de toda essa jornada que adquiriu as mais diferentes faces, da mesma maneira como explicita os nossos guias-narradores encabeçados por Gary Oldman (no seu pior sotaque) e Antonio Banderas (no seu sotaque natural), o dinheiro assumiu várias denominações ao longo dos anos: ações, fundos, rendimentos, etc.

Em The Laundromat (O Escândalo dos Papéis do Panamá), o dinheiro é novamente o centro de uma teia (à imagem do seu “certinho” mas sólido Traffic), com Panama Papers como ponto de denúncia, e nessa forma, Soderbergh, abraçando a proposta para Academia ver, camufla-se com o “chico-espertismo” de Adam McKay para falar-nos de uma economia para totós. Sim, os guias-narradores, que por sua vez são as figuras antagónicas desta antologia farsolas, quebram constantemente a quarta parede como rompimento do sigilo que os separava, uma tentativa pedagógica e ao mesmo tempo de afinidade com o espectador que leva-nos de modo alarmante a uma das maiores tendências de Hollywood: no que requer a fraudes económicas e financeiras ou revelações de má índoles políticas, a abordagem é exatamente a mesma.

De certo modo são as lições mal estudadas da arte narrativa detida por Martin Scorsese, os atos scorseseanos são cada vez mais uma realidade no modo como novos cineastas empregam no seu dito storytelling. No caso de Soderbergh, a citação direta é mesmo a de McKay, ou seja inteirar-se numa espécie de superioridade intelectual (tratando o espectador como idiota e incuti-lo nas mais diferentes lições do meio) e moral (tentando com isso fazer uma lavagem ética e de falsos ativismos, no caso de The Laundromat, o realizador se esconde por detrás da figura de Meryl Streep), e através disso envolver-nos numa metalinguagem sabichona. Em The Laundromat ainda temos as encruzilhadas histórias que tentam à última hora preencher o quadro de mosaico narrativo, para no final ser tudo afunilado a um plot twist sem calda e uma mensagem para leigos revoltar.

Eis um fracasso a todo o nível, até mesmo na direção, onde Soderbergh por vezes esquece do rigor com que tem abraçado esta causa. Por fim, Meryl Streep, a suposta imaculada diva de Hollywood, pronta a dar uso a sua lendária aura, como se fosse incapaz de cair no ridículo … e notícias para todos, cai.

Uma fraude de filme!