Os “nuestros hermanos” estão a sofrer com a homogeneidade na sua produção cinematográfica, Petra vem demonstrar um rigor no seu gesto artístico contrariando a tendência do mercado interno. Contudo, nem sempre o deslocado significa uma brisa fresca.

Se por um lado, Jaime Rosales é dos mais cativantes cineastas do atual panorama espanhol, muito pela forma como distorce os dispositivos narrativos ao serviço de histórias comuns, é verdade que em Petra nos sentimos “desnudados” perante a dominância da forma acima da fórmula. Este é um filme que nos confronta com a sua essência de tragédia novelesca, porém, exibindo uma estrutura exposta que não perpetua a sua ilusão ficcional.

A demanda de Petra (a personagem interpretada por Bárbara Lennie) em busca do seu pai incógnito, o que irá confrontar com a vilania do seu principal suspeito, é retalhado por capítulos que servem somente de apoio à imaginação do espectador, onde Rosales recorre diversas vezes ao fora-de-campo, ao desenquadramento e sobretudo ao minimalismo dos desempenhos dos atores para evidenciar dessa sublinhada sugestão. Tal como um sul-coreano Hong Sang-soo, que deixa-nos com um cinema em constante construção e nunca realizado, ou, por outras palavras, sob o registo do falso voluntário, Rosales solidifica aqui um esboço de dramaturgia ensaísta resultando num protótipo.

Infelizmente, é com experimentos pelo experimento que Petra revela o seu fascínio pela compostura e assim deixa a “céu aberto” as suas fraquezas no campo argumentativo. Pois, o trágico transforma-se em comédia involuntária, sem sequer pisar o terreno da chamada tragédia. Em conformidade com esse esqueleto em prática, o realizador incentiva uma câmara que rodeia estas personagens e tramas, mas que emancipa-se diversas vezes da ficção a decorrer.

Citando uma das características fulcrais na compreensão do cinema de Michelangelo Antonioni, é neste factor que deparamos com a única vida existente neste filme – a sua câmara.

Pontuação Geral
Hugo Gomes
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