A carreira de Steven Knight oscila entre os guiões e as aventuras pela direção, tendo isso resultado num “one hit wonder” intitulado de Locke, que através do minimalismo do seu cenário (despido a fim de provar engenhosidade do seu argumento) incorporaria um teatro improvisado com condução perfeita (palavra “condução” não foi colocada aqui ao acaso) pelo ator Tom Hardy.

Neste novo trabalho pelas duas frentes, Knight recorre novamente às limitações de cenário. Desta feita, não usufruindo da barreira evidente aos olhos do espectador, mas sim metaforicamente o transportando para os horizontes longínquos do oceano que banha esta ilha que dá pelo nome de Plymouth. Neste pedaço de terra localizado em nenhures, um paraíso para exilados e pescadores de guarida, homens sem passado que coexistem com mulheres de intenções, Serenity apressa-se em um certo tom novelesco para administrar os conhecimentos do cinema noir, elementos que vão desde as femmes fatales, aos protagonistas quebrados, passando pelos crimes passionais e de ambiguidade moral.

Ficamos então pelo registo de ser, visto que o argumento de Knight tem a tendência para o disfarce de forma a entregar-se numa completa reviravolta de argumento. Assumindo então uma ficção cientifica descurada e demasiado presa ao simbolismo da sua ideia, o que não garante a astucia proposta, Steven Knight acaba por apoiar-se em excesso na descrença da sua (in)coerência, enquanto que tenta libertar-se das amarras de Locke, exibindo uma megalomania pelo espetáculo “cerebral” à la Nolan. Sim, há muitos pós de pirlimpipim “Nolanizados” aqui, uma garantia da linguagem sóbria para espetar uma bandeja de pseudo-filosofias tecnológicas e um existencialismo de bolso.

Porém, se o guião falha, porque nem todas as formas e equações são à prova de bala, a linguagem visual e narrativa tende em ser fogo-de-artificio sobre o anonimato das “façanhas” enquanto realizador. Com isto, saliento que o artificialismo ocasional entra em estado de choque com planos-denuncia para com a natureza escondida do filme, o senso de videojogo a perpetuar como carta de trunfo, mais a incapacidade de arrastar fora do academismo empreendedor da televisão chique.

Involuntariamente Serenity funcionaria como um arraçado de telenovela tropical, em conjunto com o que de rotineiro se pratica na indústria atual. Este é um exemplo de que por vezes um guião engenhoso é transformada numa patetice pegada.