De “bestial a besta”, o promissor e outrora aclamado como o “o novo Hitchcock” M. Night Shyamalan tem vindo ultimamente assistindo a sua carreira a transformar-se em pura chacota cinematográfica. Após a fraca recepção de A Senhora da Água (2006) e a repudia geral envolto O Acontecimento (2008) e O Último Airbender (2010) descredibilizaram a realização e trabalho do autor de origem indiana em terras do Tio Sam, danos colaterais o qual se tem assistido na estreia de Depois da Terra, o qual nem mesmo Will Smith, estrela invicta do numero um do box office, conseguiu salvar uma das grandes apostas deste verão em vias de transformar num dos fiascos do ano. Vitima de uma injustificável campanha negra, a nova obra de Shyamalan (a única cujo argumento não é inteiramente da sua autoria) revela-se, perante uma “chuva” inconsequente de comparações com dois “épicos” de ficção cientifica (Terra – Campo de Batalha e Perdidos no Espaço) e as denuncias de mensagens da Cientologia, declaradas pela critica internacional, num dos mais entusiasmantes blockbusters deste verão, sem com isto querer dizer muito.

A verdade é que Depois da Terra não é original, nem sequer criativo, o universo cientifico reproduzido aqui é de aluguer, lugares-comuns e clichés vistos e revistos em inúmeras produções do género, entre os quais algumas já assistidas este ano. Mas após um introdução longa e sem inspiração, a fita de Shyamalan resolve entrar pelo território mais simples, menos pomposo e acima de tudo próprio do cinema do autor. Eis um filme sobre relações, “distâncias” entre elas, afectos conquistados entre pai e filho (química transmitida por Will Smith e o seu “rebento” Jaden Smith). Esta é a noção de família tão habitual na obra do realizador de Sinais (2004) ou O Protegido (2000). Nesses termos, Depois da Terra afasta-se dos demais produtos da estação que invadem as nossas salas por simplesmente apelar à emoção, às ligações entre personagens, sobressaindo perante os valores técnicos e corriqueiros da grande industria cinematográfica.

Todavia, a grande falha desta fita de ficção cientifica está na sua estrutura narrativa e talvez o facto de M. Night Shyamalan trabalhar com um argumento que não é seu faz com que recorra aos mais variados facilitismos, entre os quais os “flashbacks“, pura manifestação cinematográfica que identifica na obra como um verdadeiro impasse no ritmo transmitido. Para além do mais, tais resumem-se a imensas invocações irritantes e dispensáveis clichés. Por fim, temos uma ou outra sequência involuntariamente risível que falha por completo o alvo, entre as quais uma cena própria de O Sexto Sentido (1999), a obra inimitável (mas mais que replicada) que revelou Shyamalan ao Mundo, mas fora do contexto neste ensaio de ficção cientifica.

Depois da Terra é, sem demasiados frenesins tecnológicos, quer visuais, quer sonoros, nem a inconsequência e sacrifício do argumento para puro entretenimento juvenil, uma obra que arrisca a tornar-se no “anti-blockbuster” do ano. Modelo vintage da essência narrativa, assim por dizer, da produção de entretenimento. Uma historia familiar sobre um cenário futurista que merece uma oportunidade de ser vista.

Pontuação Geral
Hugo Gomes
after-earth-depois-da-terra-por-hugo-gomesNão é o "abominável" pintado por muita imprensa norte-americana