Estreado no último Festival de Sundance, «Martha Marcy May Marlene» é uma viagem em dois tempos ao mundo de uma jovem que após abandonar uma estranha comunidade regressa ao convívio da irmã, entretanto casada. O seu período de ausência não está matematicamente quantificado, mas foi marcante para Martha, que foi transformada em Marcy May pelo líder do culto.

Interpretado por John Hawkes (Despojos de inverno), um habitué em Sundance, este líder deixa à vontade quem se junta ao seu grupo e com falinhas mansas e diversas filosofias radicais vai conquistando aderentes na forma de jovens disfuncionais e com pouco sentido de preponderância na vida. Ao terem agora mais atenção, eles alinham cegamente nos desígnios deste guru, ainda que interiormente haja coisas com as quais não conseguem lidar na plenitude. E é após um evento trágico que Marcy May, que também responde pelo nome Marlene, regressa à sua forma Martha, e foge da comunidade ficando ao cuidado da irmã na sua gigantesca casa. A readaptação a este mundo é complicada, até porque o conceito de privacidade parece ter-se diluído na estadia  de Martha no tal culto, onde convivia e compartilhava tudo com outros residentes.

Mas apesar de o filme focar um culto moderno, baseado nas experiências vividas por uma amiga do realizador Sean Durkin, «Martha Marcy May Marlene» é acima de tudo um filme sobre uma personagem traumatizada e que quer agora reiniciar a sua vida sem saber por onde começar. Os problemas surgem logo no isolamento completo que sente na sua vida, para além de defender alguns valores que entra em colisão com os ideais da irmã e cunhado.

Destaque nesta obra para Elizabeth Olsen, a protagonista, variando a sua interpretação entre a confusão, a paranoia, a insegurança, mas também com um tom doce de integração social naquela que foi a família que melhor a tratou. 

Com tudo isto Durkin cria um filme tenso, pesado mas profundamente libertador onde apenas o final se revela abrupto demais para um filme que construiu sempre a sua história de forma paciente na construção de um puzzle psicológico que representasse o seu estado mental. A não perder

Pontuação Geral
Jorge Pereira
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