Documentário da cineasta alemã Marita Stocker onde, como em tantos outros casos, anda-se numa linha tênue e prestes a arrebentar entre as boas intenções e a relevância social do “statement” (neste caso, o das mulheres “não-validadas” na história do “rock”) e uma verdadeira paixão pela história e pelo objeto que aborda.

Suzi Quatro, Kristin Hersh e Linda Lewis, a irmã de Jerry Lee Lewis que continua a tocar “rock” em pequenos bares aos 74 anos, oferecem os momentos mais úteis do filme. Suzi Quatro comenta que, nos anos 70, simplesmente “esqueceu” qualquer limitações de género e aparece a tocar o seu baixo e a compor “rock’n’roll” sem se preocupar com mais nada. Hersh, por seu lado, deu mais nas vistas no final dos anos 80 quando a sua banda de “rock indie”, os Throwing Muses, assinaram pela 4AD e conseguiram juntar-se ao rico panorama britânico da época. Nada disto é abordado no filme, mas antes a forma como ela desistiu de uma indústria sexista para seguir os seus próprios caminhos.

Assim, tirando os relatos destas e de outras artistas que amam música, o filme tem uma perspetiva histórica rasa e muito pouca paixão pela grande epopeia do “rock’n’roll”. Em vez disso, parte de um critério irrelevante para justificar a “exclusão”: a pouca quantidade de mulheres incluídas no Rock and Roll Hall of Fame – uma instituição que ninguém leva realmente a sério para validar o que quer que seja.

Talvez isso explique que Stocker, mesmo que não tenha pretendido fazer um inventário sobre as mulheres no “rock” (sendo elas tão poucas, aliás, qual a lógica de NÃO tê-lo feito? Falta de conhecimento?) tenha deixado de fora pelo menos três atos que superam de longe gente como as The Go-Go’s (uma banda “pop” mediana dos 80s que foi induzida no Hall of Fame e aparece no filme): as Runaways (incluindo Joan Jett e Lita Ford, que tiveram carreiras solo relevantes), as Slits e, de longe, as mais bem-sucedidas comercialmente – as L7 – ainda que com apenas um álbum, o glorioso “Bricks Are Heavy”.

De volta ao Rock and Roll Hall of Fame, uma curadora fala, onde uma curadora fala da inclusão tardia de Tina Turner (a qual, no “rhythm &  blues”, teria de estar em companhia de Ike Turner, e que, no “pop”, teve mais do que reconhecimento) e até chora pelas injustiças e pelo caso de Sister Rosetta Tharpe.

Tharpe, na verdade, passa longe de precisar de tal distinção e está muito acima da premissa deste filme: essa mulher fabulosa não só tocava guitarra quando nenhuma outra o fazia como alternava assombrosamente entre os púlpitos da igreja onde cresceu com os bordéis onde executava “a música do Diabo”. Ela merecia uns dez filmes só para ela e aqui teve direito à uma epígrafe e uns três minutos de considerações banais. Por fim, Tharpe teve amplo reconhecimento na sua época e influenciou uma legião de guitarristas (homens: as “ladies” não seguiram as suas pisadas), e faz parte de qualquer compêndio sobre o passado: ela não foi apenas uma mulher em território masculino como uma das pioneiras, junto com mestres como Charles Christian, T-Bone Walker e Muddy Waters, a eletrificar a guitarra.

O resultado final é insatisfatório e algo insosso do ponto de vista histórico – seja por qual prisma a cineasta tenha pretendido abordar a fascinante epopeia do “rock’n’roll”.