Filho de operários, Ken Loach dedicou grande parte da sua carreira – já com seis décadas – às condições de vida da classe operária, não só se preocupando com a classe como um todo. normalmente oprimido por um sistema capitalista injusto, mas igualmente com os destinos individuais de cada uma das personagens que coloca em cena. E fê-lo sempre com grande contemporaneidade, analisando formas precárias de subsistência à medida que a economia, tecnologia e globalização avançavam numa marcha rápida. Assim o foi em “Kes” (1969) e assim o foi, cinquenta anos depois, em “Sorry We Missed You”, mostrando uma coerência ideológica, não apenas no pensamento político e social, mas igualmente na sua forma de fazer cinema.

Novamente com Paul Laverty no argumento, o mais recente filme do cineasta, que o próprio afirma pode ter sido o último, “The Old Oak(O Pub the Old Oak) segue a mesma linha de raciocínio, viajando agora o espectador até 2016, em Easington, County Durham, no Norte de Inglaterra. Marcada pela decadência, desde que a mina que alimentava o povoado fechou na década de 80, os poucos habitantes deste local veem os seus jovens partir, as casas atingirem valores irrisórios, e os espaços de comunidade, como a igreja, encerrarem lentamente. O que antes era uma comunidade próspera e orgulhosa, luta agora para manter vivos os valores e os espaços comunitários, e é aí que entra em cena o “The Old Oak” (que inevitavelmente nos leva a “Jimmy’s Hall”), um pub gerido por Tommy Joe ‘TJ’ Ballantyne (Dave Turner), que funciona atualmente como o único local onde as pessoas do vilarejo ainda se conseguem juntar.

Minados pelo sentimento de abandono por parte das entidades governamentais nos últimos quarenta anos, a reação dos habitantes à chegada de um grupo de refugiados sírios, impostos pelo governo, acentua o sentimento de raiva, ressentimento e uma desarmante falta de esperança para com o sistema. Nem todos pensam assim, como Tommy, que torna o seu pub num centro de encontro entre os que aí vivem em decadência há décadas, e os recém-chegados, que fugiram de uma guerra civil tenebrosa.

Regido por princípios humanistas que recusam falar em “caridade”, mas sublinham a “solidariedade”, tal qual aquela que na década de 198o pediram quando surgiu a luta pela manutenção da mina local, “The Old Oak” tem um modelo muito mais orientado para o crowd pleaser do que os filmes de Loach normalmente têm. Isto não significa que tudo tem forçosamente de terminar bem, até porque no mundo em que vivemos – e Loach sabe bem disso – as coisas correm normalmente mal, mas existe um cuidado especial em passar uma mensagem solidária, enquanto Loach distribui ferroadas não apenas às entidades governamentais que progressivamente foram destruindo o tecido económico destas regiões (com inevitáveis consequências sociais), mas igualmente à própria classe operária, que não pode abandonar a ideia do coletivo e embarcar no individualismo.

Claro está que no meio de uma análise macro, Laverty e Loach incidem o texto e a câmara em duas personagens, cada uma com trajetos individuais complexos que os preenchem, sendo fácil ao espectador criar rapidamente empatia com eles. São os casos do já referido Tommy Joe ‘TJ’ Ballantyne, mas também de Yara (Ebla Mari), uma jovem síria que se torna o braço direito (e esquerdo) de Tommy na função de juntar as duas comunidades que vivem agora naquele local.

Sempre bem acompanhado por atores em sintonia com a exigência dos papéis, Loach faz novamente um filme relevante e imperativo na sua rica cinematografia, daqueles para sair das salas de lágrimas, sem ser, propriamente, descarado ou excessivamente manipulativo.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
the-old-oak-solidariedade “The Old Oak” tem um modelo muito mais orientado para o crowd pleaser do que os filmes de Loach normalmente têm. Ainda assim o cineasta distribui ferroadas, não apenas às entidades governamentais que progressivamente foram destruindo o tecido económico de certas regiões, mas igualmente à classe operária, que não pode abandonar a ideia do coletivo e embarcar no individualismo.