“Gosto do absurdo, mas até esse termo já me soa a velho hoje em dia”, dizia Quentin Dupieux ao C7nema, logo após o lançamento deIncroyable mais vrai“, estreado na Berlinale ainda este ano e exibido posteriormente no IndieLisboa. E a verdade é que esta frase explica um pouco a evolução do cineasta nos últimos anos, ele que ganhou relevância através de histórias como a de um pneu assassino (“Rubber“), ou a de assassino que procura ter todos os casacos de camurça do mundo (“100% Camurça“) ou ainda a de uma mosca gigante que se transforma em animal de estimação de uma dupla de amigos (“Mandíbulas“).

Se em Incroyable mais vrai o humor absurdo sobre o envelhecer transpirava sarcasmo, atenuando a menor capacidade do cineasta em realmente nos surpreender,  “Fumer fait tousser” (Fumar faz tossir) é meramente um exercício pastiche apalermado capaz de vingar se fumarem dois ou três cigarros daqueles que fazem rir.

E é assim que “Power Rangers” e “Tales from the Crypt” se unem nas linhas gerais do novo filme de Dupieux, uma paródia que coloca cinco vigilantes ou vingadores como a Força Tabaco, que essencialmente é antitabagista ainda que isso nem sequer venha ao caso. Temos assim a Nicotina (Anaïs Demoustier), Amoniaco (Oulaya Amamra), Metanol (Vincent Lacoste), Benzeno (Gilles Lelouche) e Mercúrio (Jean-Pascal Zadi) a lutarem pela defesa do mundo, tudo sobre as ordens de um rato fantoche libidinoso, que está sempre a babar-se, ao qual Alain Chabat empresta a voz. É contra uma tartaruga demoníaca que os vemos lutar no início, mas o grande perigo vem do perigoso Lezerdim (Benoît Poelvoorde), uma figura interplanetária que teima em explodir a terra logo depois de jantar. Entregues a esta nova missão com poucas hipóteses de sucesso, o quinteto reúne-se num acampamento enquanto aguarda por ordens, e nada melhor para passar o tempo que contar histórias de assombrar.

Construído em formato de sketchs que se esgotam rapidamente, até pelo desinteresse maior ou menor de cada uma das histórias contadas (e que visualmente assistimos), “Fumer fait tousser” é o típico caso de um produto conceptual muito mais divertido no papel e nas filmagens que propriamente pela sua concretização. A verdade é que nem os escassos 80 minutos salvam este filme de ser uma repetitiva fórmula, tão estapafúrdia que fará certamente as delícias de qualquer audiência habituada a filmes Z em sessões da meia-noite ou maratonas com amigos e álcool à mistura. Mas no essencial, eis um daqueles objetos que se espreita (e que é capaz de gerar uma boa dose de memes), mas que nunca consegue ultrapassar a barreira do filme descartável e para um nicho muitíssimo reduzido.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
fumer-fait-tousser-pastiche-apalermado-mostra-cansaco-do-cinema-de-quentin-dupieux “Fumer fait tousser” é o típico caso de um produto conceptual muito mais divertido no papel e nas filmagens que na sua concretização e resultado final