Il faut aller voir”, era o mote do falecido explorador e cineasta Jacques-Yves Cousteau, como se viu no documentário “Becoming Cousteau”, mas podia ser perfeitamente o mesmo de Catherine Joséphine “Katia” Krafft e Maurice Paul Krafft, vulcanólogos falecidos em 1991, e que são o objeto de análise deste “Fire of Love”, filme de abertura do Visions du Réel.

Curiosamente, ou não, os dois filmes citados são produções da National Geographic, que em ambos os títulos mostram a importância das figuras para a ciência (num caso, oceanografia; noutro, a vulcanologia), enquanto visitam simultaneamente a suas vidas pessoais, pondo em cima da mesa como as suas paixões e interesses condicionaram as suas vidas pessoais. 

E se no caso de Cousteau, ter filhos foi uma ambição, no caso dos Krafft, a opção foi exatamente oposta. A dupla conheceu-se em Paris, manifestou-se nas ruas contra a guerra e partiu em busca de algo maior e sem interferência humana. Assim chegaram ao estudo dos vulcões, que cuidadosamente distinguem em dois tipos: os vermelhos, inofensivos e previsíveis; os cinzentos, imprevisíveis e extremamente perigosos. Foi um destes, no Monte Unzen, no Japão, a 3 de junho de 1991, que lhes ceifou a vida, nomeadamente quando o fluxo piroclástico arrastou tudo o que apanhou pela frente, matando-os a eles e dezenas de pessoas (entre eles jornalistas).

Os Kraffts ficaram conhecidos por serem pioneiros em filmar, fotografar e registar vulcões, muitas vezes chegando a poucos metros dos fluxos de lava. São essas imagens, espectaculares e impressionantes, captadas pelos próprios, que a realizadora Sara Dosa utiliza para traçar a memória de uma dupla onde cada um tinha as suas particularidades. Se Katia era uma pessoa dos detalhes e do registo através de imagens estáticas, com algum cuidado, Maurice analisava tudo de uma forma mais macro, por vezes de forma irresponsável (veja-se a sequência em que navega num bote usado num lago de ácido sulfúrico) e captava fundamentalmente o movimento.

É através da voz de Miranda July, quando não dos próprios, que o casamento de imagens que Dosa faz chega até ao espectador, indo-se mais além da simples homenagem às figuras, mas acima de tudo à ciência.

No final, “Fire of Love” é uma história de ciência, amor e risco. Tudo embrulhado num documentário tão tocante como sedutor, instrutivo como inspirador. E a dupla retratada comportava-se como verdadeiros rockstars do conhecimento.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
fire-of-love-ciencia-amor-e-riscoUma história de ciência, amor e risco. Tudo embrulhado num documentário tão tocante como sedutor, instrutivo como inspirador.