Enquanto aguardamos pela versão de Bertrand Bonello podemos contentar-nos com este Yves Saint Laurent. Ou talvez não! A primeira das duas obras sobre o homónimo estilista, aquele que foi considerado um génio no seu Mundo, é em todos os casos apenas mais uma no panorama de biografias que tanto invade o cinema e que a França tem ganho nos últimos anos um gosto particular na glorificação dos seus “heróis”.

Na obra de Jalil Lespert, com inspirações ao livro de Laurence Benaim, seguimos a ascensão de Yves Saint Laurent (Pierre Niney) no mundo da alta-costura, desde da tomada de posse na Casa de Christian Dior até à relação algo tumultuosa, embora afetuosa, com o seu companheiro e parceiro, Pierre Bergé (Guillaume Gallienne). E claro, biopic não seria biopic se não possuísse o conflito, neste caso o lado excêntrico e perdido de Yves Saint Laurent, que deixa transparecer a certa altura.

Apesar das boas intenções, esta retrospetiva sobre a relevante figura da moda (nos dias de hoje é tido como uma referência) não escapa à esquematização do produto industrializado, ou seja, a velha formula de sempre mas sob um diferente embrulho. As interpretações, mesmo que prestáveis, principalmente a de Guillaume Gallienne, são demasiadas presas para se seguirem autónomas na intriga e o resto é simplesmente chover no molhado. É certo que o filme não aborrece, mas não impressiona, nem desafia o espectador a desconstruir o próprio conceito cinebiográfico. Tudo se resume a uma simulação da realidade com traços novelescos e uma condução fluída até ao seu desfecho.

Jalil Lespert tem até os seus rasgos como “autor! (um plano bem feito ali, alguma comoção acolá) e não é isso que está em causa, mas sim um produto modelizado sem personalidade numa indústria crescente no panorama cinematográfico francês. Nem todos podem ser o Gainsbourg – Vida Heróica, de Joann Sfar.

Pontuação Geral
Hugo Gomes
yves-saint-laurent-por-hugo-gomesO Melhor - É um produto profissionalmente estruturado e construído ... O Pior - ... mas falta-lhe personalidade.