Filmes como A Gaiola Dourada perpetuam uma ideia estereotipada dos emigrantes portugueses em França. Entre porteiras e pedreiros, a generalização que já virou senso comum, obtivemos ao longo destes anos uma imagem de “bom imigrante” que se enraizou no nosso imaginário. Essa, que apesar de tudo, merece ser discutida e debatida face à expansão do populismo e das políticas antimigrantes, na qual os nossos conterrâneos parecem participar contraditoriamente (segundo as mais longas estatísticas, como por exemplo, no forte apoio das comunidades portuguesas ao partido de Marine Le Penn). Menina, a primeira longa-metragem de Cristina Pinheiro não acrescenta nem reflete nessa condição dos fluxos migratórios à portuguesa, mas é curioso que abre com os festejos do 25 de abril, data, hoje, utilizada como desculpa para tais discursos.

Mas fora as tacadas que se poderia suscitar aqui, Menina avança com uma história tenra de uma relação paternal que se vai aprofundar com bases num imaginário paralelo. Naomi Biton é a pequena protagonista que convida o espectador para esse mesmo percurso, comportando uma inocência virginal digna de  “enfants”. O seu olhar é o guia que o espectador mais precisa para o interior do seu mundo, e igualmente da “pequena” comunidade luso-francesa.

O seu pai (Nuno Lopes), o objeto de encanto e de uma empatia que tenta rasgar a sua figura algo pastiche (clichés alcoólatras e da má paternidade), e a sua mãe (Beatriz Batarda), são os seres que representam de forma esquemática esse mesmo “grupo”. Porém, convém afirmar, que ao contrário dos casos de sucesso como A Gaiola Dourada, de Ruben Alves, esta Menina não ostenta o mesmo fascínio pelo país que os acolhera.

Cristina Pinheiro tem tudo ao seu dispor; atores de peso (incluindo a pequena Biton), o enredo simplista mas convicto, o cenário e o seu falso-bucolismo, mas falta-lhe sobretudo a “garra” para costurar tudo isto num tecido fluido. Menina cede a um episódico desnaturado que revela sobretudo inexperiência em tomar as rédeas do ritmo narrativo. O final, que cai numa elipse que prolonga o sofrimento, já exibido e de certa forma exibicionista, acentua uma peça melodramática miserabilista. Fora isso, temos aqui um pequeno filme que aos tremeliques tenta aguentar-se nas suas canelas.

É modesto, mas falta-lhe a determinação para ser mais que isso e, sobretudo, incisão.