A Netflix promove 365 Dias com a sugestiva sinopse: “Uma executiva fogosa numa relação sem chama é vítima de um dominador chefe da máfia que a aprisiona e lhe dá um ano para se apaixonar por ele.”

Talvez como consequência da pandemia, que ainda nos aconselha a permanecer em casa, mas sobretudo pelas tendências kamikazes da autora destas palavras, o play foi carregado.

Baseado em 365 dni, o best-seller da autora Blanka Lipinska, este suposto drama erótico foi claramente escrito e realizado por alguém que consumiu em doses exageradas a saga Fifty Shades of Grey (As Cinquenta Sombras de Grey) e que não teve o discernimento de perceber ou pelo menos de não repetir os erros da equação, sobretudo na adaptação a uma longa metragem, já quem em formato livro, o erro pode não ser tão grave.

Longe vão os tempos em que eram feitos verdadeiros filmes eróticos. Películas que não eram explícitas, mas que respiravam sexo: Último Tango em Paris, Orquídea Selvagem ou Nove Semanas e Meia, por exemplo. Filmes que ainda hoje são mencionados como exemplo de boas práticas no que ao erotismo e sensualidade cinematográfica dizem respeito.

A única coisa que é [literalmente] boa no filme é o protagonista, o italiano Michele Morrone. Uma espécie de exemplar endeusado, digno de um altar no panteão da mitologia clássica. Todos os 57 mil momentos (número fictício) em que aparece nu, de tronco nu ou com camisas desabotoadas de forma a vislumbrar-se os sexy e alinhavados pelos do peito, são um deleite. Toda a vertente estética merece uma avaliação de 10 em 10, no entanto, não precisava de falar, porque cada vez que o faz, é uma espécie de crime.

História cliché, repleta de elementos pacóvios: o macho latino rico, possessivo, com problemas de afectividade que se apaixona por uma mulher insatisfeita com a sua vida sexual. Numa época em que o feminismo está na ordem do dia, este filme de Barbara Bialowas e Tomasz Mandes não é muito simpático à causa. A personagem Laura, interpretada pela bonita e desconhecida polaca Anna Maria Sieklucka é um bocadinho apatetada. É raptada e aprisionada por um chefe da máfia siciliana, subjugada a uma espécie de fetiche light e mesmo assim, apaixona-se por ele cerca de 1 minuto depois de o conhecer.

Resumindo, quem gostou do universo de 50 Sombras de Grey vai facilmente achar piada a este 365 Dias, quem não gostou vai certamente odiá-lo. Quem poder passar ao lado, é a melhor abordagem.

Se vão à procura de erotismo com classe, fica um conselho amigo: vejam antes os três filmes mencionados no quarto parágrafo deste texto: esses sim são dignos e competentes da categoria “drama erótico”.

Pontuação Geral
Sofia Santos
José Raposo
365-dias-feito-a-medida-de-donas-de-casa-desesperadas É tão mau que, chamar-lhe filme, devia dar direito a atribuir Oscars a vídeos do Pornhub