Hollywood gosta de redenções, confissões e solavancos. E sob esse signo, este é um filme que segue as regras do jogo. 
 
Não desesperem no primeiro contacto com este O Caminho de Volta [The Way Back]. Sim, estamos a falar de um filme protagonizado por Ben Affleck a lidar com o seu agravado alcoolismo e uma ‘fracassada’ equipa de basquetebol para treinar e devolver as suas prometidas vitórias. Contudo, apesar do sabor familiar, há aqui um toque que apura o nosso paladar para um suposto dramalhão de “losers’.
 
Novamente reunido com Gavin O’Connor (até porque The Accountant – O Acerto de Contas foi um sucesso considerável), realizador na lista dos bem-sucedidos “tarefeiros” de Hollywood, O Caminho de Volta é uma produção consciente da saturação de lugares-comuns e clichés expirados, e sem evitar totalmente os seus fins, consegue esquivar-se sob dribles para estes redundantes resultados. Fiquemos então com a questão de pessoalidade e com isso devemos sobretudo referir que um dos atores mais odiados e possivelmente mais caricaturados apresenta-nos o seu maior desempenho de carreira, concretizando uma espécie de diluição biográfica. 
 
Affleck, que nos últimos dias, tem revelado o poder destrutivo da bebida na sua vida pessoal, amorosa e profissional, aceitou encarnar esta personagem debilitada com o trauma e proclamando “santuário” numa mesa de bar. É uma introspeção a nível emocional, como também, em certo modo, uma confissão ficcionada para com o espectador. O amargurado Ben Affleck deambula numa história desencantada de sucesso e de quedas, mais a última que a primeira, conduzindo por “rodriguinhos” hollywoodescos contaminados com um senso de “câmara oculta”, uma aparente e  desengonçada técnica que despe de rigor e artificialidade em todo este “refill”. 
 
Devido a esse empenho nas sombras, Gavin O’Connor (que se desvia do seu tema-fetiche de irmãos e rivalidades) dispara sobre a iminente fantasia, destruindo um sonho aprumado e até mesmo as institucionalizadas cruzadas beatificadas, sempre anexadas à superação do alcoolismo no grande ecrã. Ben Affleck vive e revive num jeito soturno, num desgosto silencioso sem ênfases de rutura, um “quasi-underacting” que tão bem cairia na pele do seu irmão Casey, mas nunca desta forma tão pessoal e exposta. 
Pontuação Geral
Hugo Gomes
o-caminho-de-volta-um-farrapo-humano-chamado-ben-affleckCaminho de Volta é uma produção consciente da saturação de lugares-comuns e clichés expirados, e sem evitar totalmente os seus fins, consegue esquivar-se sob dribles para estes redundantes resultados.