Baseado num livro de David Foenkinos, o popular escritor de La Délicatesse (A Delicadeza), que por sua vez gerou um filme protagonizado por Audrey Tatou, o trabalho de Rémi Bezançon entende-se como uma espécie de CSI do mundo literário que arranca após a descoberta de um manuscrito num arquivo de “livros rejeitados” por uma jovem editora.

A Biblioteca dos Livros Rejeitados cola-se aos trilhos do policial convencional, mas sem um rasto mortal pelo caminho, onde o macguffin é o livro de um autor que aparentemente nunca existiu (pelo menos como escritor). Quem está determinado a prová-lo é um crítico literário de orgulho ferido, Jean-Michef Rouche.

Interpretado por Fabrice Luchini, Rouche é também protagonista de um programa televisivo inteirado no mesmo universo, até que certo dia é despedido após confrontar a mulher de um falecido autor, insinuando que o mesmo não escreveu o póstumo livro que se revelaria num estrondoso sucesso de vendas. Sem trabalho, divorciado e com um orgulho ferido, Rouche parte em busca do verdadeiro paradeiro de Henri Picki, para certificar a sua teoria, que um pizzaiolo de uma longínqua e pequena cidade da Bretanha não escreveu nem uma página.

É uma autêntica “caça ao livro” que revela que Bezançon conhece os códigos de um subgénero-irmão, conseguindo transcrever neste enredo a ambiência de um whodunit à americana. Obviamente, o objeto aqui imposto poderá levar-nos à memória de outros “peddy papers“, nomeadamente o livro maldito em A Nona Porta, de Roman Polanski, mas não devemos entrar em ambições cruciais para o destino do Mundo. Aqui, a sua limitação, quer argumentativa e narrativa atribui a uma certa classe a este produto de consumo rápido.

Portanto, A Biblioteca dos Livros Rejeitados é um trabalho que não vai mais além da colagem de maneirismos e de semióticas, dando-nos a sensação de saborear uma espécie de prato alternativo. Luchini, mais uma vez, é “boa raça” de ator que nos faz identificar com a sua demanda, não pela verdade, mas pela afirmação de uma autoridade inteletual. Pelo meio existe uma das poucas frases curiosas – “hoje em dia vivemos obcecados com a forma das obras e como estas foram construídas” – só que na falta desse casamento, forma e formula, tudo se torna binário. E essa binariedade é o que converte a crítica, seja de arte for, em algo meramente instintivo e não reflexivo.

Pontuação Geral
Hugo Gomes
Jorge Pereira
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