Um atentado num museu de Nova Iorque vitima a mãe de Theodore, deixando-o a mercê da generosidade de estranhos e da prisão do seu obscuro segredo. O Pintassilgo, adaptação de um homónimo romance de Donna Dart, comete, por sua vez, um ato suicida, uma analogia inserida na sua trama.

Aí, um antiquário e restaurador coloca duas cadeiras exatamente iguais à frente do seu pupilo (o nosso protagonista) e questiona qual das duas peças é uma genuína relíquia e qual é uma réplica. Depois da hesitação do jovem, o artesão, aqui interpretado por Jeffrey Wright, indica algumas peculiaridades no autêntico, características facilmente reproduzidas, ou diríamos antes, forjadas na cópia. Porém, acaba por afirmar que nela [peça antiga] as imperfeições e as assimetrias desgastadas a valorizavam, dando uma sensação de trabalho, história e vida. No caso do “impostor”, esta era “plana e morta”.

Esta cena em particular serve como analogia para o dramalhão ou pastelão (conforme a escolha do leitor, o resultado é o mesmo) que tenta fazer passar por produção de requinte com segundas intenções (a temporada de prémios). Por entre o seu brilhantismo, nesta plasticidade com que se trabalha uma narrativa sem espessura, de conflito dissipado e completamente recortado por flashbacks em modo vai-e-vêm, encontramos um filme morto à nascença. Vazio, mas ambicioso, que se engana a si próprio com uma falsa complexidade emocional, mas que no final recorre a um academismo profundo.

Sim, vindo do mesmo realizador de Brooklyn – John Crowley – que por si já ostentava esses sintomas (Saoirse Ronan funcionava como uma espécie de pílula amnésica), O Pintassilgo vive na ilusão da adaptação saturada do bestseller como a única forma de genuinidade nessa mesma arte.

Pois bem, os adeptos do livro podem “respirar de alívio”, pois têm aqui o “calhamaço” cinematográfico sem expressividade. Depois há Nicole Kidman despida do seu “momento” (sim aquele que por vezes salva ou aprimora obras como Lion ou Boy Erased), uma mera secundária em estado de graça numa farsa de antiquário.

Pontuação Geral
Hugo Gomes
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