Está confirmado! Não teremos terceiro filme da saga iniciada por Guillermo Del Toro. Os resultados abaixo da expectativa de O Exército Dourado (tendo rendido 160 milhões de dólares globais sobre um orçamento de 85 milhões) foram suficientes para que o estúdio negasse o orçamento proposto para uma eventual continuação. Os fãs pediram, mas a espera tornou-se cada vez maior e os envolvidos partiram para projetos distintos, mais concretamente Del Toro, a quem foi oferecida a realização de O Hobbit (que no final retornou às mãos de Peter Jackson). 
 
Com uma saga no limbo, a agora detentora dos direitos de adaptação, a Lionsgate decidiu reiniciar a franquia. A produção ganha forma com um novo Hellboy escolhido, David Harbour do sucesso de Stranger Things, ocupa o lugar de Ron Perlman, e um realizador habituado a andanças sangrentas e sobrenaturais – Neil Marshall. 
 
Com alguns filmes de culto no currículo (Dog Soldiers – Lobos Assassinos, A Descida e o subvalorizado Doomsday – Juízo Final) e um trabalho árduo em alguns episódios de Guerra dos Tronos, Marshall não tem segundas intenções: o objetivo é devolver a personagem de Mike Mignola (criada em 1991) às trevas. Com isso, “adeus” à fantástica atmosfera desenvolvida em dois filmes e “olá” ao sangue a rolos.
É um computadorizado show grotesco, assim por dizer, substituindo o dedicado trabalho de efeitos práticos por camadas e mais camadas de CGI. É quase pornográfica a sua dependência para com o facilitismo digital, porém, é a sua narrativa, arrastada e endossada numa tendência de videojogo que o filme expõe as suas fatalidades. É que o nosso anti-herói combate as forças do mal por entre slow motions questionáveis e numa hiperativa fusão com efeitos visuais mais que artificiais ao som de uma banda-sonora pesarosa. 
Obviamente que os filmes de hoje têm desafios tremendos em conseguir captar a atenção dos espectadores, estes cada vez mais reféns das distrações ao redor, mas isso não é desculpa pela imaturidade com que aborda uma história e personagens contadas (e melhor) num passado não tão longínquo.
Assim por dizer, este é um filme despreocupado (alheio a “eventuais” danos colaterais), despachado, que por vezes se autoparodia de forma involuntária.
David Harbour dá forma a esse escapismo jubilante, conseguindo atingir ocasionalmente um sarcasmo distinto e caracterizado. Vale a pena afirmar que é o ator e a sua “pesada” maquilhagem a assumir o melhor deste descosturado “bicho do mato”, frente a um elenco secundarizado recheado de automatismos (Milla Jovovich, Ian McShane) e “promessas” desaproveitadas (Sasha Lane, de American Honey, ficou mal servida). 
 
Será saudosismo declarar amor aos filmes de Guillermo Del Toro frente a esta “aberração”? A verdade é que este não foi o Hellboy que pedimos, nem o que merecíamos… É somente uma desculpa para mais um franchise