Cub volta a invocar um dos medos mais primitivos da Humanidade, a floresta (the woods) e a sua respectiva aura de sombrio mistério. Cenário perfeito para a imaginação humana, muito antes do cinema ser cinema, e que na chegada da dita Sétima Arte tem sido um dos importantes vetores do terror. Facilmente chega à nossa memória os exemplos de Sexta-Feira 13, Evil Dead ou até mesmo o recente e sobrestimado Cabana do Medo, filmes que conotaram a floresta e todos os seus adereços como parte integra da narrativa e como um aditivo aos sustos expostos. Concluído com apoio de um crownfunding, a primeira longa-metragem de Jonas Govaerts não será certamente um filme que ficará na memória ou marcado a ferro na História do Cinema de Terror, mas é sobretudo uma obra que nos reserva ousadia e audácia.

A intriga segue Sam (Maurice Luijten), um rapaz de 12 anos com certos traumas psicológicos, que faz parte de um grupo de escuteiros que preparam o seu mais recente acampamento. Quando o local para tal experiência predestinada é abalada pela presença de rufias, os monitores do grupo arranjam uma solução de última hora, acampar no local mais remoto da floresta. Um cenário perfeito para a aventura e, sobretudo, para a presença de criaturas inimagináveis.

Govaerts aproveita a atmosfera intensa da floresta para incutir o terror no seu jeito mais puro. Porém, o realizador e também co-argumentista beneficia da ausência de grafismo para jogar com a sugestão plena, o desconhecido que soa como ignorância imperativa para o espectador e reflete como um catalisador para a imaginação de cada um. E é aí que reside a verdadeira “aventura” campal de Cub, uma tímida homenagem ao cinema gore que prova que nem sempre o explicito é sinónimo de choque, neste caso a ausência dele insere-se como liberdade criativa (existem pelo menos duas sequências chocantes e quase impossíveis para o sistema industrial de Hollywood).

Existe ritmo, bons desempenhos e uma direção segura por parte de Govaerts que convertem a obra num exercício de medo passageiro, mesmo sob uma transfigurada “bandeja” de referências. Infelizmente, é nesse termo que o filme não possui a capacidade de “vingança”, de transcender esse cinema reflexivo e conhecedor dos seus próprios moldes. Começam a faltar ideias ao terror, mesmo sendo ele conduzido com tamanha profissionalidade e dedicação.