Desde Andando (2008) que não restam duvidas. Hirokazu Koreeda é o novo detentor do titulo “o mais japonês de todos os realizadores japoneses“. Verdadeiro descendente da arte de Ozu, o cineasta é um dos poucos capazes de transformar temas do quotidiano, enredos triviais sem força fílmica, em espectáculos cinematográficos de excelência, incutindo e preservando as relações entre as diferentes personagens e mantendo as suas ambições dramáticas. Contudo, com Tal Pai, Tal Filho, a sua nova obra, o espectador assíduo do percurso artístico de Koreeda depara-se, até ao momento, com o seu filme mais ousado e sofisticado, sem com isso perder o seu toque como “amante” do mais caloroso dos sentimentos.
A ternura é algo que demora a sentir-se nesta nova criação mas quando por fim é “solta”, difícil é não nos sentirmos tocados por ela. Tal Pai, Tal Filho remete-nos a um enredo que parece o predileto dos inúmeros ensaios “telenovelescos” e mediáticos; um casal da classe média alta que descobre que o filho de seis anos na verdade não é seu, mas sim fruto de uma troca na maternidade. O legitimo encontra-se aos cuidados de uma peculiar família de classe média baixa, decidindo ambas as partes exercer uma troca de forma a compensar os anos perdidos a criar o filho errado. Contudo, esta decisão irá ser questionada por diversos dilemas, quer por questões ligadas ao legado ou simplesmente por amor.
Uma colisão entre classes sociais onde Hirokazu Koreeda “toca” mas não aprofunda, não sendo o seu cinema erguido sobre o panfletismo ou de intervenções do foro social, mas sim em oferecer a emoção que parece algo perdida no cinema dos dias hoje. Claramente, Tal Pai, Tal Filho é um profundo “must” dramático, um jogo de emoções em que cada espectador se deliciará em ser manipulado, tudo num processo delicado, sensível, modesto e humilde. Koreeda não seguiu o telefilme nem sequer novela, incutiu cinema de coração e manteve intacto o seu estilo já reconhecido.
