Filmado durante 9 anos, aquilo que começou por ser apenas um documentário sobre um “informador” do FBI adolescente, Sigurdur Thordarson, também conhecido como Siggi, que se tornou o braço direito (e esquerdo) do fundador do WikiLeaks, Julian Assange, transformou-se em bastante mais neste novo documentário de Ole Bendtzen (Football Is God), “A Dangerous Boy”, presente no CPH:DOX na categoria competitiva de filmes dinamarqueses.

Com a ajuda da mãe deste e de alguns amigos, onde se inclui um padre, Bendtzen começa logo por traçar um pequeno perfil de Siggi desde a infância e a sua apetência para “mexer nos computadores”. Muito cedo, explica a mãe, ele conseguiu alterar as notas dos colegas que não gostava na escola, mas o pior estava para vir quando, aos 15 anos, conseguiu consertar o computador de um executivo de uma empresa num voo internacional, sendo posteriormente contratado por ele. Foi a partir daí que Siggi, utilizando computadores pessoais cheios de segredos corporativos, acedeu ilegalmente a ficheiros secretos que mostravam manobras pouco claras de várias empresas e bancos islandeses na forma como investiam o dinheiro depositado pela população. Todos se lembram que o primeiro país a sofrer violentamente com a crise gerada pela bolha imobiliária nos EUA foi a Islândia, iniciando-se uma caça aos homens que arruinaram a banca do país e, consequentemente, o estado.

Siggi estava lá, nesse caso, e chegou a ser detido quando foi denunciado por um amigo de entregar documentos confidenciais à imprensa. Porém, essa foi apenas uma das suas múltiplas detenções. Do início da sua relação com Assange e a Wikileaks, passando por casos de sexo com menores e várias fraudes, falsificações, extorsões e atos sexuais que o levaram novamente a ser detido, não esquecendo a atualidade em que se tornou a principal testemunha dos EUA no caso que opõe o país a Assange, o filme explora (quase) tudo, sempre na dúvida de que as palavras que Siggi dita perante as câmaras sejam mesmo verdade. Essa dúvida fica mesmo patente quando, 9 anos depois de iniciar as filmagens, o realizador pergunta a Siggi se ele alguma vez mentiu. A resposta é que sim, provavelmente, mas nunca sobre as mais importantes questões relativas aos seus casos judiciais.

Por entre histórias de hackers, agências de inteligência, múltiplas paranoias e brincadeiras parvas com gás pimenta, o realizador, recorrendo a imagens de arquivo, entrevistas e à investigação dos processos penais, assina um documentário jornalístico de caráter investigativo, mas que nunca se retrai em entrar na esfera intima e pessoal do visado para tentar entender, de certa maneira, o que motiva este homem e o que o formou em termos pessoais.

E nessa viagem de 9 anos, Ole Bendtzen entrega ao público um espetáculo informativo em crescendo, que embora decodifique um pouco o percurso do jovem hacker, nunca decifra a persona que temos pela frente. Por isso, no final, temos uma noção do que Siggi fez, mas nunca o que foi e é. E com isso, precisamos ainda de completar o puzzle sobre a questão Wikileaks e Julian Assange. “A Dangerous Boy” é apenas mais uma peça, mas não a definitiva.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
a-dangerous-boy-viagem-ao-mundo-de-sigurdur-thordarson-o-informador-adolescente-que-traiu-julian-assangeOle Bendtzen entrega ao público um espetáculo informativo em crescendo, que embora decodifique um pouco o percurso do jovem hacker, nunca decifra a persona que temos pela frente.