42. Era esta a famosa resposta, em jeito de comédia, que Douglas Adams dava no seu “The Hitchhiker’s Guide to the Galaxy” para a questão fundamental sobre a vida, o universo e tudo mais. E essa resposta vinha depois de biólogos, evolucionistas, filósofos e muitos mais invadirem o espaço de leitura e discussão durante décadas (e até séculos) com as suas tiradas sobre a origem da vida e porque estamos aqui, falando de tudo e de nada, enquanto entregam ciência, metafísica e muitas vezes espiritualidade (que inclui, mas não se encerra, na religião) em doses iguais.

A pequena pérola literária “A Breve História de Quase Tudo”, de Bill Bryson, faz isso também, dispersando-se por múltiplas questões que vão desde os átomos que por alguma razão se decidiram juntar, à teoria do Big Bang, passando pelos dinossauros e muito mais.  E pego neste livro, entretanto já transformado em “de bolso”, para mostrar que “Life and Other Problems”, filme de Max Kestner (Amateurs in Space) que concorre ao prémio principal do festival CPH:DOX na Dinamarca, segue a mesma linhagem.

Partindo de um episódio que levantou muita celeuma entre a comunidade científica, mas principalmente nos leigos (especialmente impulsionada pelo poder da imprensa e das redes sociais), Kestner parte em busca de respostas sobre a vida, a morte e os entretantos, tropeçando em “coincidências”, “propósitos maiores”, além de dilemas morais e éticos, e múltiplas outras questões (que geram outras), como aquelas sobre a consciência, de si próprios e dos outros, sejam animais (homem incluído), micróbios, fungos e bactérias.

A ignição para esta jornada existencial curiosa e envolvente, mas derivativa, é o caso famoso de uma girafa, Marius, sacrificada pelo Jardim Zoológico de Copenhaga por existir um excedente desses animais e os seus genes não serem essenciais para a espécie. Essa abordagem cientificamente crua, fria, mas real, chocou com a comunidade internacional, que se multiplicou em tentativas de salvar o animal. Até Hollywood se meteu numa conversa, não faltando ameaças de morte ao responsável pelo Zoo que tomou a decisão que ainda agora acha correta.

Não entrando especificamente – nem opinando- sobre o tema “Marius” em causa, pois em jogo está o funcionamento da natureza, que sabemos ser tão bela como cruel, e um jardim zoológico é, acima de tudo, um espaço artificial de entretenimento humano (sobre a desculpa educacional), cabe-me então avaliar como a partir desse episódio o realizador (maestro desta caminhada sobre tudo e sobre nada) orienta o seu filme para as questões que coloca, envolvendo no processo diversas personalidades dos mais diversos campos (da biologia à psicologia,  passando pela microbiologia e veterinária, entre muitos).

Claro está que, num filme como este, ou livro, como o citado acima, além das respostas serem escassas, as questões levantam mais questões, num efeito dominó de dispersão controlada. Tem uma célula consciência de si e das outras que a rodeiam? Podem os humanos continuar a agir como juízes e carrascos do reino animal? Existe um propósito maior para a nossa vida, ou devemos apenas no sustentar que estamos aqui por coincidência? Há muitas respostas que não o são e há muitas perguntas que nascem da nossa necessidade em valorizar a nossa própria presença do mundo.

No final de tudo isto, a verdade é que, mesmo pisado terrenos movediços existencialistas já debatidos inúmeras vezes com melhores resultado, “Life and Other Problems” agarra-nos, mexe conosco e deixa-nos a pensar. E se um filme faz isso, mesmo revisitando lugares comuns, é certo que merece uma olhadela.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
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