Já com experiência em filmar simulações de guerra e cenários problemáticos, ainda que com grande dose de ironia, como se viu em “Full Battle Rattle” (2008), onde  soldados norte-americanos tentam pacificar e controlar uma “cidade iraquiana” no deserto de Mojave, na Califórnia, os realizadores Tony Gerber e Jesse Moss embarcam num novo “jogo de guerra”, agora imaginando uma rebelião interna com maior intensidade do que aquela associada ao ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio dos EUA. E se as forças da Guarda Nacional se unissem aos manifestantes, e militares e grupos paramilitares tentassem derrubar o presidente democraticamente eleito? Esse cenário é possível e, ainda ontem, em Dayton (Flórida), o candidato Donald Trump previu um “banho de sangue” caso perdesse as eleições presidenciais marcadas para novembro deste ano.

São esses “ses” que movimentam “War Game”, um documentário em jeito de thriller que, a partir de um ensaio organizado pelo Vet Voice, um grupo sem fins lucrativos que junta uma série de antigos funcionários governamentais, onde até marcam presença ex-governadores, como Steve Bullock do Montana (a interpretar o papel de John Hotham, presidente dos EUA), ou Wesley Clark, ex-comandante do comando europeu dos Estados Unidos da América e pelo comando aliado supremo da NATO, simula uma eventual insurreição em solo norte-americano, logo após o rescaldo das eleições de 2025, com o candidato derrotado, Robert Strickland (interpretado pelo ator Chris Henry Coffey), a agir como Donald Trump, ou seja, a questionar a validade dos resultados e apelar à revolta, tendo como aliado um grupo paramilitar denominado de A Ordem de Colombo.

Com o tempo cronometrado (que chega ao espectador através de um relógio LED na parede, à la24“), como que a anunciar o hora do Juízo Final, este jogo perigoso viaja entre as imagens da sala de crise onde decorre a resposta à revolta, imagens reais e fabricadas dos insurrectos, e apontamentos de notícias reais e fabricadas sobre a evolução dos processos judiciais, eleitorais e políticos, antes, durante e depois da invasão do capitólio a 6 de janeiro. Nisto, Tony Gerber e Jesse Moss mostram, objetivamente, que muito pouco foi feito, desde 2021, para eliminar das forças de segurança elementos com ideias mais radicais e supremacistas. 

Mantendo sempre uma abordagem séria, de simulacro bem real que deve ser levado aos extremo na equações de cenários, “War Game” é sempre tenso, particularmente por intercalar imagens bem recentes na nossa memória do motim no Capitólio, que posteriormente teve réplicas de imitação no ataque a 8 de janeiro em Brasília, aquando Lula derrotou Bolsonaro nas eleições. É que aquilo que achávamos muito improvável de acontecer em 2021 NOS EUA (e 2023 no Brasil)  aconteceu, deixando-nos todos em suspense quanto ao futuro. Para este resultado, destaque para a montagem de Jeff Gilbert e a banda-sonora de Paweł Mykietyn, os quais conseguem manter o espectador agarrado à cadeira durante cerca de 90 minutos.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
war-game-simulacro-em-forma-de-thriller-equaciona-nova-insurreicao-nos-euaDocumentário em jeito de thriller que, a partir de um ensaio organizado pelo Vet Voice, simula uma eventual insurreição em solo norte-americano, logo após o rescaldo das eleições presidênciais