Difícil falar de um filme em que uma vítima de abuso sexual na infância, o realizador Anders Skovbjerg Jepsen, pede ao abusador para, ao longo de uma hora e meia de documentário, fale com ele dos abusos que aconteciam sempre no verão no quarto dele, quando a desculpa para lá entrar era jogar videojogos. Um tinha seis anos, o outro dezoito.

As memórias de ambos, reprimidas, não sabem precisar o numero de vezes dos abuso e muitos outros detalhes da infância do abusado e da adolescência do predador.

Construído como alguma forma de terapia que a vítima nunca consegue precisar, este documentário, na competição do Bergamo Film Meeting, nunca se propõe a mostrar o rosto do abusador, tendo o espectador acesso à sua voz e nome, Peter, arrependido e tentando agora a vida que tem, onde se inclui proteger o seu próprio filho de crescer sem pai, como lhe aconteceu a ele.

Quer as conversas entre os dois, quer as tentativas do cineasta em perceber o que pretende emocionalmente e psicologicamente com o seu filme são oferecidos ao espectador como um diário doloroso, o qual, aos altos e baixos, especialmente quando abusador deixa durante uns tempos de responder ao abusado, revela-se tão absorvedor como incomodativo.

Mas o real incomoda e faz-nos pensar. E a verdade é que cerca de uma em cada três agressões sexuais contra crianças e adolescentes são cometidas por outras crianças e adolescentes com menos de 18 anos. Que cicatrizes deixa a vergonha, o sentimento de impotência e a culpa para o resto da vida? Que marcas se arrastam até hoje para predador e presa?

Sem respostas concreta, “A silent story” é devastador. E revigorante.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
a-silent-story-quando-o-abusado-e-abusador-se-reencontram-finalmente Que cicatrizes deixa a vergonha, o sentimento de impotência e a culpa para o resto da vida? Que marcas se arrastam até hoje para predador e presa.