A velhice e a incapacidade de tomar conta de si, mesmo que se entenda que ainda se consegue, e a juventude problemática, derivada de um ambiente familiar disfuncional e desestruturado, são temas comuns no universo do cinema, mas aqui neste “Some Birds” (Valami madarak) encostam-se um ao outro com candura na forma de amparo, tudo através da amizade improvável que vai florescer entre (László Szacsvay), um idoso, e Zoé (Lilla Kizlinger), uma dolescente.

Quando o filho de Béla (Szacsvay), que vive em Berlim, descobre que o pai, que se encontra em Budapeste, sofreu uma queda e que já não era a primeira, decide colocá-lo nessa casa de repouso. Ex-operário de uma fábrica de tapetes, Béla encara essa decisão como absurda e temporária, rabujando frequentemente contra as pessoas que insistem que estão a fazer tudo pelo seu bem.

Reclamando pela independência que entretanto perdeu, é num desaguisado à mesa com uma empregada da casa de repouso que nasce uma ligação entre duas almas à procura de afirmação pessoal: ele, encostado às cordas” contra a sua vontade numa casa de repouso; ela, uma jovem problemática Zoé (Lilla Kizlinger) a cumprir uma pena de trabalho comunitário no mesmo local.

É difícil, depois do sucesso que representou, já lá vão 13 anos, não falar de “Intouchables” de Olivier Nakache e Éric Toledano, pois apesar das diferenças evidentes na história, a espinha dorsal que sustenta este “Some Birds” é a mesma: duas pessoas bem distintas encontram o balanço para as suas vidas e situações precárias (quer físicas, quer sociais) através da compreensão mútua.

E tal como o filme francês, que teve remake americano, esta obra húngara que abriu a competição internacional de longas-metragens do Bergamo Film Meeting nunca procura a armadilha das lágrimas e da banda-sonora melosa, preferindo concentrar-se num realismo que sabe lidar com a velhice e com a juventude de forma delicada. No meio disto, talvez o maior clichê seja o da mãe divorciada emocionalmente frágil com tendência para escolher as piores companhias, uma espécie de “ovo de colombo” não de descoberta, mas de algo que teve ser moldado para se segurar, neste caso no guião, não derrubando com isso o filme, na sua rota de ter tanto de crowd pleaser, como possuir o poder de reflexão. 

Num filme com estas circunstâncias, o elenco mostra-se um rochedo para a intensidade emocional e a criação de humor de forma doseada, com a ajuda da direção de fotografia de Marcell Nagy a enegrecer e dessaturar as cores que refletem a palidez emocional das vidas retratadas. E Nagy, sem nunca cair numa estética de contornos plúmbeos, que fariam certamente ruir algum otimismo que o filme quer sublinhar, está em sintonia com o guião e com as interpretações seguras, longe do overacting, como era requerido.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
some-birds-amigos-improvaveisÉ difícil não falar de “Intouchables” de Olivier Nakache e Éric Toledano, pois apesar das diferenças evidentes na história, a espinha dorsal que sustenta este “Some Birds” é a mesma: duas pessoas bem distintas encontram o balanço para as suas vidas e situações precárias (quer físicas, quer sociais) através da compreensão mútua.