Segunda longa-metragem do escritor e realizador Min Bahadur Bham, após “The Black Hen” (2015), “Shambhala” (que significa, em sânscrito, “um lugar de paz, felicidade, tranquilidade“) leva-nos durante 150 minutos numa jornada por entre as paisagens e barreiras, físicas, psicológicas e sociais, de uma mulher,  Pema (Thinley Lhamo), que vive no alto dos Himalaias em plena conformidade com as tradições locais. 

É quando ela se prepara para casar com dois maridos, Tashi (Tenzin Dalha), por quem efetivamente se sente romanticamente ligada, mas também com o irmão mais novo deste, Dawa (Karma Wangyal Gurung), uma criança para quem ela é uma verdadeira figura materna, que o filme começa. O romantismo, associado a algum material expositivo (nunca verdadeiramente que pretenda ser didático) quanto às tradições locais, acompanham a primeira porção do filme, começando o mergulho dramático quando Tashi segue numa expedição à capital tibetana, Lhasa, e Pema aproxima-se do professor da aldeia, Ram Sir (Karma Shakya), que por sua vez tenta conduzir o pequeno Dawa pela vida escolar.

Às tantas, Pema engravida e começa a correr na aldeia o rumor que ela traiu Taschi, palavras que chegam aos ouvidos deste, que agora se mantém afastado do local e crava a sua história em pedra. Destinada a esclarecer as coisas, a mulher parte numa jornada a pé ou a cavalo para encontrar o esposo, sendo acompanhada nessa viagem por Karma (Sonam Topden), um músico e monge de um mosteiro local, que recebeu a ordem de a acompanhar de um velho abade (Loten Namling).

Visualmente arrebatador, filmado em widescreen com planos longo, onde as paisagens frequentemente engolem os protagonistas com toda a sua grandiloquência, “Shambhala” ganha progressivamente contornos de odisseia espiritual e de resiliência, mas também de emancipação e empoderamento feminino, sem nunca ser panfletário ou sentir-se inorgânico. Exemplo claro do que muitos chamam “slow cinema” de poucas palavras, Min Bahadur Bham coloca no seu filme diversos obstáculos perante a mulher numa rota pela verdade e autodeterminação, criando nesse percurso enormes vínculos afetivos entre as personagens, os quais facilmente encontram eco no espectador.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
shambhala-pema-e-os-seus-dois-maridosVisualmente arrebatador, onde as paisagens frequentemente engolem os protagonistas com toda a sua grandiloquência, “Shambhala” ganha progressivamente contornos de odisseia espiritual e de resiliência, mas também de emancipação e empoderamento feminino, sem nunca ser panfletário ou sentir-se inorgânico