Poderia se dizer que, por esta altura, Bruno Dumont é completamente livre de filmar o que quer que seja, mas a verdade é que, com maior ou menor maestria, ele sempre o foi.

O responsável por filmes como  “L’Humanité”, “Flandres”, “Fora, Satanás” ou “Camille Claudel”, além de duas tiradas em torno de uma Joana D’Arc muito peculiar e musical, “Jeannette” (2017) e “Jeanne” (2019), o cineasta volta a pegar num trabalho seu, desta vez “P’tit Quinquin”, para efetivamente desbundar com o universo “Star Wars”, as eternas lutas do bem contra o mal e as naves e sabres de luz a rasgarem as paisagens de dunas da “Costa Opala” do norte de França, local onde é anunciada a definitiva batalha a nível cósmico.

Comédia burlesca, excêntrica e definitivamente absurda, tal qual “Petit Quinquin” o era, o elemento de mashup de ficção cientifica espacial, que provavelmente só acreditamos vendo, acaba por servir como paródia, nunca ao jeito de  David Zucker, Jerry Zucker e Jim Abraham (Police Squad) ou ainda de Mel Brooks (Spaceballs), mas ao jeito Dumont, que com esta incursão cria o seu próprio universo cinematográfico alucinado, ao qual não deixam de estar presentes alguns dos habitués do seu cinema, como Fabrice Luchini no papel de um guia turístico, o hospedeiro humano de uma bolha negra de ectoplasma.

A terra será o campo de batalha entre as diferentes forças, com Lyna Khoudri e Anamaria Vartolomei a servirem todo o male gaze do mundo, sempre bem acompanhadas por Camille Cottin na forma da presidente da câmara absorvida pela figura cósmica do bem. No lado das “estrelas” de “P’tit Quinquin”, há vários regressos, com a dupla de polícias mais uma vez a se evidenciar nas menores aparições que têm por aqui.

Ver para crer é a frase que se aplica neste “The Empire”, onde surpreendem os efeitos visuais e a forma descomplexada com que Dumont brinca com os elementos do seu universo e também com os dos outros. Já a montagem, às vezes com cortes muito brutos, repete-se como marca de um autor.

E apesar da tendência para o esgotamento de ideias a caminho do desenlace, numa estrutura de sketchs que se amontoam com alguma conformidade de filme como um todo, “The Empire” consegue cativar e prender o espectador que é fã de Dumont. E talvez esta paródia sirva para muitos outros revisitarem “P’tit Quinquin”, esse sim uma obra-prima de Dumont.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
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