Terceiro filme da sua trilogia ‘Aftermath‘, depois de “And Tomorrow…” e “Hanna’s Journey”, Julia von Heinz baseia-se no livro “Too Many Men“, de Lily Bretta, para se atrever a fazer algo que os cineastas alemães ainda falam com pudor, especialmente quando o humor está presente na narrativa: o holocausto e os que sobreviveram a ele.

Passado na Polónia, logo após a queda da Cortina de Ferro, este filme com códigos de road-trip famíliar coloca pai e filha numa visita ao país, anos depois de o patriarca ter fugido para os EUA . Ele, Edek (Stephen Fry), viu a família ser morta pelos nazis, mas sobreviveu ao genocídio. Já ela, Ruth (Lena Dunham), nascida nos EUA, visita pela primeira vez o país onde encontra as suas raízes, tendo como plano visitar a cidade onde o pai viveu (Lodz) e os terríveis campos de concentração, onde parte da sua família deu o último suspiro.

Explorando as consequências do Holocausto, os traumas adquiridos e feridas demasiado abertas para sarar, é a partir da constante crispação entre os desejos contrários de Ruth e Edek que o filme se movimenta, numa forma de feel-good-movie de reconexão emocional e territorial que nunca verdadeiramente nos conquista ou minimamente convence. É que são os caprichos de ambos os protagonistas, em especial de Ruth, em conflito com os traumas do pai, que servem de combustível para a evolução da história, servindo as personagens secundárias de meros bonecos ao serviço da dupla. O grande problema aqui é que nem Lena Dunham, nem Stephen Fry, conseguem iluminar suficientemente o ecrã, mesmo que os momentos em que visitam a antiga casa que serviu de berço para a família, ou Auschwitz-Birkenau, tenham uma potência concetual extraordinária.

O resultado de tudo isto é um filme cinzento, incapaz de sequer preencher os mínimos do entretenimento escapista. E para Julia von Heinz, apesar de ser o seu filme com mais potencial comercial, é também o seu maior tropeção.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
treasure-a-dor-do-regresso-e-da-reconexaoExplorando as consequências do Holocausto, os traumas adquiridos e feridas demasiado abertas para sarar, é a partir da constante crispação entre os desejos contrários de Ruth e Edek que o filme se movimenta