Depois de sofrer um AVC que lhe provocou uma amnésia, potencialmente reversível, Philippe volta para uma pequena comunidade na Ilha de Lewis, a Noroeste da Escócia. Depois de um muito breve prólogo, que só se torna relevante mais tarde, a sua confusão, ao tentar deslindar as relações com as pessoas e histórias que faziam parte da sua vida, é partilhada conosco. Com apenas um cão à sua espera em casa, Philippe, um belga procurando o exílio de situações que só se vão aclarando mais tarde, é confrontado com reações e declarações de outros que nem sempre parecem estar interessados no seu bem-estar.

De entre as várias relações, uma torna-se mais intensa, apesar da sua ambiguidade: a relação com Millie, uma mulher a quem chamam a “Rainha do Gelo”, devido à sua idade e celibato, mas a ameaça da memória que pode voltar pesa em todas. Com a ansiedade a permear todos os momentos, o único momento de tranquilidade é mesmo na relação entre Millie e Philippe, com a intimidade a conseguir construir uma pequena bolha frágil.

É um filme de contrastes, paisagens que se estendem, lindas mas inóspitas, dominadas pelos homens e pelo seu trabalho (as mulheres relegadas para o lado ou para o interior de casas), conversas íntimas em carros apertados, olhares sempre desconfiados a aumentarem a ambiguidade de tudo o que é dito e feito, condensado e limitado ao estritamente necessário, com todo o subtexto sustentado nos silêncios, nas caras e na paisagem. Como a música dos Spain com o mesmo título e que ouvimos no final, “Nobody has to know” (Um Amor na Escócia), é contido, mas calmo, sem grandes surpresas e sem grandes actos românticos.

Bonito, com planos longos e uma câmara sem grandes devaneios, a mostrar o que tem de ser mostrado e construindo os espaços interiores apenas pelo movimento fora dela, é a paisagem que aqui mais brilha, mas é mesmo a sua construção narrativa que nos mantém o interesse, tentando perceber o que aconteceu antes e como irá tudo acabar.

Este é um daqueles filmes que desapareceu do horizonte da produção Norte-Americana, um drama sólido, sem grandes nomes ou orçamento, que conta uma história sem grandes efeitos especiais e funciona, como dizia Roger Ebert, como uma máquina que gera empatia e nos permite, por um curto tempo, espreitar e sentir a vida de outro.

Pontuação Geral
João Miranda
Jorge Pereira
um-amor-na-escocia-amor-amnesicoFunciona, como dizia Roger Ebert, como uma máquina que gera empatia e nos permite, por um curto tempo, espreitar e sentir a vida de outro